Título: Sharon 'estável' após 3.ª cirurgia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Internacional, p. A10

Novo sangramento levou médico a nova operação. Quadro é sombrio, mas diretor do hospital diz que há melhora

Os médicos do Hospital Hadassa Ein Kerem realizaram ontem de manhã uma terceira cirurgia de emergência no primeiro-ministro Ariel Sharon, de 77 anos, desta vez de cinco horas de duração, para estancar um sangramento no cérebro. Ele permanece em estado crítico, "mas estável". Suas chances de sobreviver continuam mínimas. Depois que foi internado às pressas na quarta-feira, após sofrer uma hemorragia cerebral, Sharon foi submetido a duas cirurgias consecutivas, de seis e três horas de duração, e mantido em coma induzido.

Ontem, após a nova cirurgia, o diretor do hospital, Shlomo Mor-Yosef, afirmou que os sintomas mais agudos foram minimizados. "Com a operação, a pressão craniana foi aliviada e alguns coágulos sanguíneos que permaneciam da cirurgia anterior foram drenados", disse o médico, ao transmitir aos jornalistas o último boletim. Segundo Mor-Yosef, exames do cérebro de Sharon mostram melhora significativa em comparação com exames anteriores. Mas o médico acrescentou que Sharon continua em coma e com respiração artificial.

Neurologistas consultados pela imprensa local e internacional têm dito que, mesmo que Sharon sobreviva, sua capacidade física ficará seriamente comprometida, tornando impossível sua volta ao trabalho.

A morte ou incapacitação de Sharon provocará um vácuo na política israelense e no processo de paz no Oriente Médio. Como as eleições parlamentares estão marcadas para 28 de março, e serão mantidas, segundo a Justiça, os líderes políticos já começam a discutir as alianças. As eleições parlamentares palestinas do dia 25 também devem ser afetadas (ler na página A12).

As medidas adotadas pelos médicos israelenses são "desesperadas", segundo a maioria dos especialistas ouvidos pelo New York Times, e provavelmente não terão sucesso. Mas é praticamente o que restou no esforço para salvar a vida de Sharon e manter o máximo possível suas funções motoras e capacidades intelectuais.

Foi o segundo derrame de Sharon em menos de três semanas. Em 18 de dezembro, um derrame relativamente leve prejudicou temporariamente sua fala mas aparentemente não provocou nenhum dano permanente. Há uma série de fatores que desempenham um papel crucial para se determinar se pacientes como Sharon vão sobreviver a um derrame e quantas funções poderão perder. Entre esses fatores estão a quantidade de sangramento, sua localização no cérebro, a pressão no cérebro e a idade.

Mas Ron Krumer, o porta-voz do hospital Hadassah Ein Kerem, disse que o objetivo desse insólito e em grande parte desconhecido tratamento foi reduzir a pressão dentro do crânio "para permitir que os vários sistemas do corpo dele - especialmente sua mente - tivessem um verdadeiro descanso".

Embora alguns especialistas concordem com os tratamento excepcionais que estão sendo usados e outros se oponham a eles, todos concordaram que os médicos estão trabalhando na margem extrema da capacidade da medicina de salvar vidas, com pouca experiência e poucos estudos para orientá-los.