Título: Fora do poder, mas com poder
Autor: João Domingos, Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/01/2006, Nacional, p. A4

Fundador e presidente do PT de 1995 a 2002, José Dirceu não precisa de cargo na direção para influenciar os rumos do partido. A crise do mensalão minou seu poder, mas de forma nenhuma o eliminou. O ex-todo-poderoso do governo Lula e do PT deixou vários aliados na estrutura petista, tanto que até hoje escapou de qualquer processo disciplinar interno e pelo menos dois integrantes da cúpula da legenda lhe ofereceram o próprio cargo. Comissão de Ética? Só o ex-tesoureiro Delúbio Soares sabe o que é. E o ex-secretário-geral Silvio Pereira se desfiliou antes de correr o risco. Dirceu já deixou claro que vai zelar por sua história no PT e prometeu se submeter ao "julgamento político" dos militantes petistas possivelmente no congresso da legenda.

Do ponto de vista legal, nada o impede de retornar ao Diretório Nacional. Dirceu segue como suplente da chapa que o antigo Campo Majoritário - grupo de tendências que ele mesmo concebeu - indicou para compor o Diretório Nacional. Foi sua permanência na chapa, inclusive, que tirou da disputa pela presidência do PT o ex-ministro Tarso Genro. Se a maioria dos integrantes do grupo que comandou a legenda nos últimos dez anos autorizar e ele quiser, pode voltar a qualquer momento.

É fato também que o PT está dividido perante a crise. De forma ambígua, assume erros, mas responsabiliza a oposição ao governo Lula e a mídia pelo tamanho do estrago e já deu por encerrada a depuração interna. A comissão de sindicância criada para investigar todos os petistas citados no escândalo do mensalão foi enterrada sem apresentar relatório.