Título: Ministros batem cabeça sobre mínimo
Autor: Fabio Graner, Christiane Samarco e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - O governo não se entende sobre a possibilidade de antecipar o pagamento do novo salário mínimo, negociado em R$ 350, de maio para março. Os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e do Trabalho, Luiz Marinho, deram declarações opostas sobre o assunto. Bernardo acha ¿possível¿ antecipar o aumento; Marinho avalia que não. Mudar a data de reajuste foi uma das condições impostas na quarta-feira pelos movimentos sindicais, em reunião com Marinho, para aceitar o acordo e definir o valor de R$ 350.

Os sindicalistas também pediram que, a partir de 2007, o mínimo seja revisto em janeiro. Outra exigência foi a correção em 10% da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).

O ministro do Trabalho contou que, depois do encontro de quarta, reuniu-se com o ministro da Previdência, Nelson Machado, para avaliar o peso nas contas públicas se o reajuste for dado em março. ¿O impacto seria de mais de R$ 2 bilhões. Desse jeito, a formulação de R$ 350 não seria possível.¿ Pelas suas contas, para cada mês antecipado o impacto na Previdência seria de R$ 1,068 bilhão.

Sem saber da declaração do colega, Bernardo foi na direção oposta. ¿É claro que é possível antecipar¿, disse. O ministro do Planejamento lembrou que a área econômica havia previsto um mínimo de R$ 340, mas insistiu em que a definição será tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿Se ele decidir que deve ser R$ 350, vamos adequar o orçamento. Se tivermos de pagar antes de maio, vai nos convocar para trabalhar essas hipóteses¿, argumentou.

Indagado se não seria irreal elevar o mínimo em patamar além do previsto ¿ e ainda antecipar o pagamento ¿, Bernardo foi taxativo: ¿Não é fora da realidade; é um pouco acima do que colocamos nos números internos do governo.¿

Para ele, porém, um aumento maior implica correção menor na tabela do IR. ¿Temos de fazer as contas e levar para o presidente. É uma decisão política¿, disse.

Na tentativa de desfazer o mal-entendido, Marinho telefonou no fim da tarde para Bernardo. Mesmo afirmando ser impossível antecipar o reajuste, o ministro do Trabalho aposta que governo e sindicalistas estão perto do acordo.

Ressalvou, no entanto, que será preciso reduzir o impacto do mínimo no orçamento.

Na proposta que está no Congresso, o valor é de R$ 321. Mas, nas negociações com parlamentares, o governo tinha aceitado elevá-lo para R$ 340. O Planalto tenta agora a difícil engenharia de aumentar o piso o máximo que puder, sem desequilibrar as contas públicas.