Título: ONU confirma suicídio, mas oficiais têm dúvida
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Internacional, p. A12

PORTO PRÍNCIPE - Embora a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) tenha confirmado a versão de suicídio, oficiais superiores do batalhão brasileiro, de 1.200 homens, que servem em Porto Príncipe ainda acreditam que o general Urano Bacellar tenha sido assassinado. ¿A conclusão das Nações Unidas, assim como a do Ministério da Defesa do Brasil, é que o general Bacellar, que comandava a Força Militar, se suicidou¿, afirmou o porta-voz da Minustah, Damian Cardona, numa entrevista coletiva, em nome do chefe da missão, embaixador Juan Gabriel Valdés.

Informado pelo Estado de que ainda há dúvidas no comando do Exército brasileiro sobre essa conclusão, Cardona observou que as investigações continuam, pois outros exames foram feitos em Brasília, mas por enquanto não há dados que levem a outra hipótese.

Foi um coronel-médico do Batalhão Haiti quem sugeriu que a autópsia fosse feita no Brasil. Sua preocupação era investigar se o general Bacellar não teria sido intoxicado por alguém que, na hipótese de assassinato, quisesse forçá-lo a disparar a arma dentro da boca, como se ele tivesse se suicidado. O oficial-médico não esteve no apartamento do Hotel Montana, onde o general Bacellar morreu na manhã de sábado, mas um sargento brasileiro que tem curso de auxiliar de medicina legal acompanhou a perícia. O general Bacellar, que morreu por volta das 6h30, havia tomado o café da manhã um pouco antes.

Essa informação, mais o fato de o comandante da Força Militar da Minustah não haver aparentado nenhuma alteração de ânimo na véspera, quando jantou na base do batalhão brasileiro, intriga oficiais em Porto Príncipe. Nada indicava que pretendesse se matar, observou terça-feira o comandante do batalhão, coronel Luiz Augusto de Oliveira Santiago. A Embaixada do Brasil desmente que a porta do apartamento do general Bacellar tenha sido arrombada, antes ou depois da morte.

¿A porta foi aberta com chave, provavelmente por um funcionário do hotel que foi acionado após o disparo¿, informou o ministro-conselheiro Arnaldo d¿ Oliveira. Não há notícias de que o general Bacellar tenha tido problemas de relacionamento com a tropa ou divergências com o embaixador Valdés.