Título: Dólar desvalorizado faz inflação de 2005 ser a menor em 7 anos
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Dólar em queda, inflação controlada. A estreita relação entre a moeda americana e a variação dos preços no Brasil foi confirmada em 2005. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano com alta de 5,69%, ante 7,6% em 2004. Foi a menor taxa desde 1998 (1,65%). A variação ficou dentro da margem definida pelo governo (2% a 7%), mas acima da meta central (4,5%). Ficou acima também do objetivo que o Banco Central começou a perseguir (5,1%) quando se convenceu de que não seria possível cumprir a meta de 4,5%.

¿O dólar foi o fator relevante¿ para segurar a inflação no ano, destacou a gerente do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos.

Já os preços administrados ou monitorados pelo governo foram os vilões, como observou a economista Maria Andréia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).

O câmbio puxou para baixo reajustes de alimentos e insumos e evitou que a quebra da safra no Sul tivesse efeito ¿mais perverso¿ sobre as despesas familiares. Segundo Eulina, desde 1999, com a mudança da política cambial, a inflação brasileira tem efeito direto do dólar.

Ontem, o IBGE divulgou variação de 0,36% para a inflação de dezembro, inferior aos 0,55% de novembro. O ano chegou ao fim com perda de ritmo nos reajustes nos dois grupos mais importantes nas despesas das famílias: transportes (0,66% para 0,24%) e alimentos (0,88% para 0,27%).

Durante 2005, entretanto, os transportes foram a principal pressão de alta no IPCA, com 8,07%, puxados especialmente pelos ônibus urbanos (10,44% e 0,52 ponto na taxa), como resultado do que Eulina chamou de ¿sazonalidade eleitoral¿.

Com as eleições de 2004, muitas prefeituras evitaram os reajustes, que ocorreram no ano passado. Os preços dos produtos não alimentícios subiram bem mais (6,77%) que os alimentícios, que acumularam alta de 1,99%, bem abaixo da inflação geral, e contribuíram para evitar aumento maior do índice.

Segundo Eulina, além do dólar, a safra agrícola, apesar de menor que a esperada, garantiu oferta de alimentos suficiente para a demanda interna, evitando reajustes.

Mesmo com a ajuda do câmbio, os preços administrados ou monitorados contribuíram com quase a metade da inflação no ano (ou 2,65 ponto porcentual). Mas a contribuição foi menor que em 2004 (2,94 ponto) e essa influência descendente sobre a taxa deverá permanecer em 2006, segundo Maria Andréia.

Ela observou que os administrados terão metade da variação de 2005 neste ano e contribuirão para que o IPCA acumulado recue para cerca de 4,5%. ¿Esperamos que os administrados tenham papel oposto e ajudem a conter a inflação.¿

Carlos Thadeu de Freitas, economista do Ibmec, concorda que a variação dos preços administrados cairá para cerca de 4,5% em 2006, após uma alta em torno de 9% em 2005. Com os administrados controlados, segundo o economista, as dúvidas para este ano ficam por conta de possíveis repasses de altas nos produtos agrícolas e em serviços, ambos em conseqüência do esperado crescimento do consumo.