Título: Governo vê avanços no acordo automotivo
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

Representantes dos governos e das montadoras do Brasil e da Argentina reuniram-se ontem em Buenos Aires para a primeira negociação do novo regime automotivo após a decisão de prorrogar o atual acordo por 60 dias. O governo brasileiro saiu otimista da reunião que durou três horas, mas as montadoras não viram avanço. Nova reunião será realizada no Brasil na próxima semana.

O principal impasse é a agenda para o início do livre comércio. O Brasil quer marcar outra data, já que 2006 foi descartado, mas os argentinos não querem definir novo prazo.

Ainda assim, o chefe da equipe de negociadores brasileiros, o secretário de Desenvolvimento da Produção, Antônio Sérgio Martins Mello, deixou a sede da Secretaria de Indústria e Comércio da Argentina mostrando otimismo.

¿Toda as conversas nossas resultam em avanços. Houve convergência grande em relação à agenda que será a orientação para o acordo definitivo.¿

Mello informou que na semana que vem, no Brasil, continuarão as reuniões entre técnicos dos dois governos. O encontro coincidirá com a viagem do presidente Néstor Kirchner à Brasília, para uma visita de Estado.

Ele será acompanhado pela ministra da Economia, Felisa Miceli; pelo chanceler Jorge Taiana e pelo ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido.

Segundo Mello, o encontro de técnicos servirá para alimentar a reunião de ministros. Ele não soube dizer se o assunto será tema da reunião entre Lula e Kirchner e se eles poderiam dar um eventual ¿empurrãozinho¿ na negociação bilateral.

Sem o otimismo exibido por Mello, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, disse que ¿não houve grandes avanços¿ na reunião.

Ele insistiu que é preciso ¿lutar por investimentos na região.¿ Segundo o executivo, é preciso aproveitar a conjuntura favorável para conseguir um acordo pois, ¿apesar das dificuldades, o processo simultâneo de crescimento das duas economias colocam uma agenda positiva.¿

A Anfavea defende a fixação de nova data para o livre comércio, sem o que ficariam comprometidas as negociações do Mercosul com com a União Européia e a África do Sul, previstos para começarem em fevereiro. Kirchner rechaça categoricamente essa possibilidade.

Ele e seus assessores argumentam que, em um cenário de livre comércio, o volume da venda de automóveis brasileiros no mercado argentino aumentaria significativamente. Hoje, os carros do Brasil já respondem por 63% do mercado argentino.

Pelo acordo bilateral fechado em 2001, no dia 1º de janeiro deste ano deveria entrar em vigor o livre comércio. A Argentina não aceitou.

Diante do impasse, negociadores dos dois países decidiram prorrogar as normas atuais, exceto a do livre comércio. Ficou acertado que a partir de março essa postergação deve ser substituída por uma etapa de transição de quatro meses. Em julho deve começar a valer o acordo definitivo. Mello, porém, disse que ainda é preciso discutir a agenda para definir o período transitório.

Hoje, o comércio bilateral é regido por uma norma, chamada de flex: para cada US$ 1 exportado é preciso importar US$ 2,6.

Os argentinos consideram que a proporção favorece o Brasil e preferem um flex mais restrito, ao redor de US$ 1 por US$ 1. O governo argentino também exige mais proteção para as autopeças locais. Kirchner tem especial interesse em aparecer como protetor da indústria nacional, uma carta de peso para a reeleição em 2007.