Título: Acordo que limitou litro do álcool a R$ 1,05 pode elevar preço na bomba
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

Ao invés de reduzir o preço do álcool combustível, o acordo firmado anteontem entre governo e usineiros para fixar um teto de R$ 1,05 o litro nas usinas deverá elevar em R$ 0,05 o preço para o distribuidor a partir de hoje. Essa é a avaliação do Sindicato dos Postos do Estado de São Paulo, Sincopetro. De acordo com o sindicato, números coletados pela Escola Superior de Agricultura (Esalq) da Universidade de São Paulo indicam que o preço do álcool hidratado, acrescido de impostos, será vendido pelas usinas a R$ 1,29, em média, a partir de hoje, ante R$ 1,24 antes do acordo. ¿Eu também acreditei que o preço iria cair, mas ao analisar o acordo vi que fomos enganados¿, afirma o presidente do Sincopetro, José Alberto de Paiva Gouveia.

Já para o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Giul Siuffo, o preço do álcool será reduzido para o consumidor nos mesmos R$ 0,03 que foram acordados entre o governo e o setor de açúcar e álcool. ¿Isso é uma coisa automática. Os postos e as distribuidoras são meros repassadores de preço.¿

Siuffo considera, porém, que a queda do preço do álcool nas usinas não foi uma boa solução para conter o aumento nos postos. ¿A solução seria reduzir a demanda, pois está havendo uma procura maior que a oferta, ou seja, o consumo subiu muito e conseqüentemente ¿ é a lei do mercado ¿ o preço sobe.¿

Para ele, a solução seria reduzir de 25% para 20% a mistura do álcool na gasolina. O acordo celebrado em Brasília estabeleceu o teto de R$ 1,05 (preço livre de impostos) para o chamado álcool carburante. Isso engloba os tipos anidro (adicionado à gasolina) e hidratado (usado diretamente como combustível).

No entanto, enquanto no início da semana o anidro era vendido acima do teto (entre R$ 1,08 e R$ 1,09), o hidratado custava R$ 1,03. ¿Os usineiros fizeram um grande negócio.

Reduziram o preço do anidro e aumentaram o hidratado¿, diz Gouveia. Pelos cálculos do Sincopetro, um aumento de R$ 0,02, quando somados os impostos, resulta em R$ 0,05 a mais no preço final para o distribuidor. No caso da gasolina, se os usineiros reduzirem o preço do anidro em R$ 0,04, o impacto para o distribuidor (antes de impostos) deve se limitar a R$ 0,01.

Os usineiros se defendem das críticas alegando que ainda é cedo para saber qual o comportamento do mercado. ¿O mercado não é feito apenas de quem vende, mas também de quem compra¿, afirmou a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), por meio de sua assessoria de comunicação. Na avaliação da Unica, não era intenção do acordo congelar os preços, mas apenas estabelecer um teto.

O estabelecimento de um teto para a venda do álcool foi considerado por especialistas como ineficaz e até mesmo prejudicial. Eles avaliam que a intervenção no preço cria uma incerteza artificial e desestimula os investimentos no setor.