Título: Chanceler uruguaio nega acordo com EUA
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

O chanceler do Uruguai, Reynaldo Gargano, declarou ontem que o governo do presidente Tabaré Vázquez não está negociando acordo algum de livre comércio com os Estados Unidos. As declarações enfáticas de Gargano foram feitas poucas horas após senador americano Mel Martínez, no comando de uma missão parlamentar dos EUA em visita a Buenos Aires, afirmar que o acordo de livre comércio ¿já está pronto¿ e que só falta ¿a ratificação do Uruguai, e depois, a dos EUA... mas está praticamente concluído¿. Segundo Martínez, o acordo ¿está avançado¿. Além disso, afirmou que o acordo ¿interessa ambas partes¿. E ainda concluiu: ¿É um tratado muito conveniente para o Uruguai¿.

A vice-chanceler uruguaia, Belela Herrara, disparou: ¿O senador americano está muito enganado¿.

Em Montevidéu, os analistas consideram que Martínez poder ter feito confusão com o tratado de proteção de investimentos Uruguai-EUA, recentemente aprovado pelo Parlamento uruguaio.

Tentando evitar problemas com os sócios do Uruguai no Mercosul ¿ Brasil, Argentina e Paraguai ¿, o chanceler declarou que, se seu governo quisesse assinar um acordo com os EUA, precisaria antes conseguir ¿a autorização dos países-sócios¿ do bloco do Cone Sul.

DESENTENDIMENTO GERAL

A eventual assinatura de um acordo de livre comércio entre o Uruguai e os EUA transformou-se em comédia nos últimos dias. Na semana passada, o ministro da Economia, Danilo Astori (rival de Gargano), declarou que o governo uruguaio estava negociando um acordo de livre comércio com Washington.

Segundo Astori, seu desejo era que isso ocorresse ¿o mais rapidamente possível¿. No fim de semana, Gargano desmentiu o acordo.

No início desta semana, foi a vez do ministro da Indústria, Jorge Lepra, voltar a afirmar que o acordo estava sendo negociado, e que sua assinatura poderia ocorrer antes do fim do mandato de Vázquez, em 2010.

O silêncio do presidente Vázquez sobre o acordo de livre comércio aumenta mais ainda a confusão em Montevidéu e nas outras capitais do Mercosul. Além disso, indica que o governo uruguaio tem profundas divisões internas sobre a política externa.

No entanto, Jorge Vázquez, irmão do presidente ¿ e ocupante do posto de secretário da Presidência ¿, declarou de forma ambígua que, ¿neste momento¿, o acordo com os EUA ¿não existe¿.

O ministro de Pecuária do Uruguai, o ex-guerrilheiro tupamaro José Mujica, colocou mais lenha na fogueira ao afirmar em uma entrevista ao semanário Búsqueda que os compromissos do Mercosul não servem para um ¿carajo¿.

Mujica controla um terço dos parlamentares da coalizão de governo de Vázquez, a Frente Ampla, e deixou claro que o Uruguai precisa fazer acordos com quem convier.

Segundo ele, ¿é preciso negociar com os EUA, com o Irã, com a Líbia, e com quem aparecer e se enquadrar, e com a Coréia do Sul e com a China¿.