Título: Ameaça de estiagem preocupa lavoura gaúcha
Autor: Sandra Hahn
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2006, Economia & Negócios, p. B14

PORTO ALEGRE - Depois de duas safras consecutivas frustradas pela falta de chuvas, a palavra estiagem causa apreensão entre os agricultores do Rio Grande do Sul. A previsão para a safra atual não é tão severa como a que derrubou a produtividade de soja para apenas 629 quilos por hectare na safra 2004/2005, com queda de 53% em relação à anterior, mas a má distribuição das chuvas em dezembro aumentou a preocupação. O 8.º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê chuvas dentro do padrão entre janeiro e março no Rio Grande do Sul, com ocorrência de estiagens pontuais. ¿O Rio Grande do Sul sempre tem períodos de estiagem no verão¿, diz o meteorologista do 8.º Distrito Solismar Damé Prestes. Estes intervalos sem chuvas, no entanto, são sucedidos por períodos de recuperação. Podem ocorrer episódios de 8 a 10 dez dias sem chuvas.

Embora tenha chamado a atenção, a má distribuição das chuvas em dezembro faz parte da rotina do verão, diz o meteorologista. A menor precipitação, em relação à média do mês, foi verificada em Bagé, no Sul do Estado, com apenas 14,6 milímetros, 13% do habitual. Já em São Luiz Gonzaga, no Noroeste, foram 189 milímetros em dezembro, ante a média de 156.

Para a lavoura de milho, a situação mais crítica de falta de chuva ocorre na Campanha e Sul do Estado, onde os volumes acumulados ficaram muito abaixo da média entre o final de dezembro e os primeiros dias de janeiro. Apesar de irregulares, as chuvas da virada do ano conseguiram devolver a umidade ao solo, permitindo a semeadura de poucas áreas que ainda não completaram o trabalho, o que deve ocorrer até 20 de janeiro.

No mês de janeiro, a maior probabilidade é de chuvas abaixo da média no Sul do Estado e dentro do padrão nas demais áreas, conforme o Inmet. Até ontem, o Rio Grande do Sul tinha nove municípios em situação de emergência por causa da estiagem. Mesmo se as chuvas mantiverem a média habitual, o padrão de chuvas no verão gaúcho é baixo para a necessidade das lavouras de soja e milho nas fases mais sensíveis de desenvolvimento.

O consumo de água destas culturas, durante o período de floração e enchimento de grãos, oscila entre 150 e 210 milímetros por mês, no caso do milho, e de 160 a 240 milímetros na soja, informa Ronaldo Matzenauer, coordenador do Laboratório de Agrometeorologia da Fepagro (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária).

A precipitação média mensal no verão varia de 115 a 140 milímetros no Rio Grande do Sul, observa Matzenauer, que elaborou um estudo sobre o efeito das estiagens na produção de grãos entre 1985 e 2005. A safra de milho apresentava, ao final da semana passada, 30% da área em fase de germinação, 23% em floração e 40% em enchimento de grãos. Já a soja tinha 96% da área ¿ projetada em 4,020 milhões de hectares ¿ em germinação e desenvolvimento e 4% em floração.

Nos 20 anos estudados por Matzenauer, ocorreram 10 estiagens com diferentes níveis de intensidade no Estado. A mais aguda foi a de 2004/2005, que gerou uma perda de 9 milhões de toneladas de soja e milho. Em todo o período analisado, a falta de chuvas reduziu a colheita das duas culturas em quase 39 milhões de toneladas.

A preocupação crescente com o clima nas últimas safras foi mais um estímulo para que a Fepagro decidisse formar um Centro de Meteorologia Aplicada. O órgão fará a previsão de tempo e a de clima.