Título: Rombo supera R$ 2,2 bi, alerta CPI
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2006, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - Integrantes da CPI dos Correios afirmaram ontem que o rombo nos cofres públicos por causa de irregularidades já identificadas nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso pode superar R$ 2,2 bilhões, valor revelado ontem pelo Estado. O total divulgado é resultado de auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que apontaram irregularidades e fraudes em contratos do governo federal e de estatais. Esses relatórios foram produzidos na esteira do escândalo do mensalão e enviados à CPI dos Correios. O levantamento também levou em conta auditorias feitas pela própria CPI nos fundos de pensão.

Entre outros problemas, os técnicos constataram fraudes, superfaturamento, pagamento por serviços não comprovados e conluios. O maior número de desvios foi encontrado em estatais, como os Correios e o Brasil Resseguros (IRB).

Para um dos integrantes da CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o tamanho do prejuízo aos cofres públicos é ¿escandaloso¿. ¿É algo que choca, ainda mais porque o número, ao final dos trabalhos da comissão, será certamente maior¿, afirmou. ¿É impossível avaliar o tamanho real da corrupção no governo, porque a CPI não tem instrumentos suficientes para descobrir todos os danos.¿

RECEITA

De acordo com o senador, os 122 auditores do TCU a serviço da comissão têm feito um trabalho ¿competente¿, apesar das limitações do órgão ¿ o tribunal não pode quebrar o sigilo das pessoas investigadas.

¿Para uma investigação mais profunda, precisaríamos da colaboração da Receita Federal e de outras instâncias do governo, algo que não ocorre justamente porque os casos de corrupção envolvem a gestão Lula¿, criticou.

Dias lembrou, também, que é difícil calcular a extensão real do escândalo, devido a questões de ordem técnica. ¿Isso fica muito claro nas investigações sobre as perdas dos fundos de pensão e nas apurações sobre concessão de crédito consignado.¿

Para o sub-relator de Movimentação Financeira da CPI, Gustavo Fruet (PSDB-PR), o tamanho do prejuízo é ¿alarmante¿. Mas o deputado se mostrou cético quanto à possibilidade de punições.

¿O País precisa passar por uma mudança cultural para avançar no combate à corrupção. O problema não está nas leis, mas na certeza da impunidade¿, avaliou o deputado tucano. ¿Também é fundamental aperfeiçoar os trabalhos do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e de fiscalização do Banco Central, que falharam seriamente neste caso.¿

O senador Demósthenes Torres (PFL-GO), também da CPI, concorda. ¿Apesar das limitações da CPI, está devidamente comprovado que os cofres públicos foram assaltados para financiar campanhas eleitorais, mas esse número tende a crescer conforme as investigações se aproximem do fim. Precisamos aprovar leis anticorrupção mais rigorosas.¿