Título: Morte complica o já caótico quadro político haitiano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Internacional, p. A12

Em menos de dois meses, eleições presidenciais e parlamentares foram adiadas quatro vezes

A morte do general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar no Haiti é o mais novo complicador na história de um país no qual a turbulência é a regra. Adiadas pela quarta vez em menos de dois meses, as eleições presidenciais e legislativas do Haiti só deverão ser realizadas dentro de três ou quatro semanas. A previsão feita antes do anúncio da morte de Bacellar é do embaixador chileno Gabriel Valdez, representante especial do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no país e chefe da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), que monitora um governo provisório no país desde a derrubada do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em 29 de fevereiro de 2004. Marcado inicialmente para 13 de novembro de 2005, o primeiro turno das eleições foi adiado para 20 de novembro, 27 de dezembro e, depois, para 8 de janeiro de 2006. Se essa última data tivesse sido mantida, os eleitores voltariam às urnas no dia 31, caso nenhum dos 34 candidatos fosse alcançasse a maioria de 50% dos votos mais um. A transmissão do cargo para o novo governo estava marcada para 7 de fevereiro. Após o novo adiamento, quaisquer referências a datas não passam de hipóteses.

O Conselho Eleitoral Provisório (CEP), que foi encarregado de montar o processo das eleições, em colaboração com órgãos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Minustah e representantes de partidos políticos, não conseguiu distribuir os cartões de votação aos eleitores inscritos. De quase 3,5 milhões de cartões, que valem como títulos eleitorais e cédulas de identidade, pouco mais de 1,4 milhão chegaram aos endereços dos destinatários.

Além de falhas na logística, também os feriados do Natal e ano-novo prejudicaram o cumprimento do calendário. Os eleitores, na maioria analfabetos, que antes faziam filas para buscar os cartões, desapareceram nos últimos dias. A oposição responsabiliza o CEP e seus parceiros internacionais pelo fracasso do esquema. Encarregada de imprimir e distribuir os documentos, a OEA foi chamada de incompetente pelos críticos do governo.

As primeiras eleições presidenciais a serem realizadas no Haiti após a destituição do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, que se refugiou na África do Sul após ter sido forçado a deixar o poder há quase dois anos, serão disputadas por 34 candidatos de 43 partidos.

A falta de segurança também contribuiu para o adiamento das eleições. As tropas da Minustah somam 7.269 capacetes azuis de 20 países e estavam sob o comando do general Bacellar.

O contingente militar do Brasil, formado por 1.200 homens, é responsável pela segurança de Porto Príncipe, juntamente com forças da Jordânia, Filipinas, Peru e Guatemala.