Título: "O Brasil o tirou de mim", diz viúva
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Internacional, p. A12

RIO - A viúva do general Urano Teixeira da Matta Bacellar, Maria Ignez, não escondeu o choque pela perda do marido, morto ontem no Haiti em circunstâncias ainda não esclarecidas. Muito abalada, Maria Ignez permaneceu o dia reclusa no apartamento da família, no Grajaú, bairro de classe média da zona norte do Rio, mas, por telefone, disse ser competência dos militares esclarecer as circunstâncias da morte de seu marido no Haiti.

Emocionada, em um contato com uma jornalista afirmou que o País lhe "tirou" o marido. "Não vou falar nunca. Vai perguntar para o Exército", desabafou Maria Ignez. "Ele era mais importante para mim do que para o Exército. E o País o tirou de mim."

O último encontro do general com a família foi em 2 de janeiro, dia em que retornou ao Haiti para reassumir o comando da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah).

O militar, que era gaúcho e morava com a mulher em Brasília, foi para o apartamento da família no Rio se encontrar com os dois filhos, Mariana e Rodrigo, que vieram dos Estados Unidos para comemorar as festas de final de ano.

Durante todo o dia, familiares e amigos estiveram no apartamento para consolar Maria Ignez, Mariana e Rodrigo. Todos se negaram a conversar com os jornalistas.

No meio da tarde, um padre e três representantes do Comando Militar do Leste chegaram ao prédio no Grajaú para prestar assistência à família Bacellar.

Leisa Coelho, vizinha do general, contou que ele era uma pessoa "simpática e sociável" nas vezes em que se encontravam no edifício. Ainda destacou que o militar não criava problemas com os demais moradores e vinha ao Rio poucas vezes por ano.

O apartamento foi inicialmente comprado para os filhos, que logo em seguida foram morar, estudar e trabalhar nos Estados Unidos, e o local passou a ser um lugar destinado a férias ou descanso.

De acordo com uma irmã que mora em Torres, no Rio Grande do Sul, ele preferia passar o tempo livre com a mulher e não gostava muito de festas. Em entrevista à Rádio Gaúcha, a irmã de Bacellar contou que ele não costumava falar sobre o andamento do seu trabalho na missão de paz no Haiti.