Título: Morre general brasileiro no Haiti
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Internacional, p. A12

Urano da Matta Bacellar, chefe da missão de paz da ONU, é encontrado morto no hotel onde morava

PORTO PRÍNCIPE - Comandante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) desde 31 de agosto, o general Urano Teixeira da Matta Bacellar, de 57 anos, foi encontrado morto ontem, em seu quarto de hotel em Porto Príncipe. De acordo com o assessor de informações do Exército, tenente-coronel Fernando da Cunha Matos, Bacellar foi vítima de "acidente com arma de fogo". As primeiras investigações da Minustah, porém, indicam que a causa da morte foi suicídio. Uma fonte militar da missão de paz disse à agência de notícias France Presse que Bacellar "disparou um tiro na própria boca". Em nota, o Exército brasileiro comunicou que está investigando o incidente. O general era casado e tinha dois filhos, Rodrigo e Mariana, ambos arquitetos e vivendo nos EUA.

O general chileno Eduardo Aldunate Herman assumiu interinamente o comando da Minustah, segundo informou o Ministério da Defesa do Chile. Bacellar tinha retornado ao Haiti na semana passada, depois de ter passado as festas de fim de ano com a família, no Rio. A morte de Bacellar levou o governo brasileiro a convocar uma reunião de emergência para a noite de ontem, no Itamaraty.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, conversou, por telefone, com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, com o chanceler chileno, Ignácio Walker, e com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice.

Além de Amorim, que estava no Rio, retornaram a Brasília para participar do encontro o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, e o Comandante do Exército, general Francisco Albuquerque. O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, também participou da reunião.

Logo depois do encontro, Amorim disse que, pessoalmente, não acreditava que o militar tivesse se matado, embora tenha ressaltado que nenhuma hipótese poderia ser descartada.

O chefe da América do Norte do Itamaraty, Gonçalo Mello Mourão, tinha embarque previsto ontem à noite para Porto Príncipe. Um avião Hércules da Força Aérea também já estava pronto para resgatar o corpo do general, mas até ontem não se sabia quando ele seria liberado.

Outra decisão que estava sendo tomada pelas autoridades brasileiras era a de enviar para Porto Príncipe uma equipe de legistas e técnicos de balística do País. Como ainda há dúvidas sobre a causa da morte, o Brasil entende que isso poderá contribuir com as investigações. Os exames preliminares já estavam sendo realizados em Porto Príncipe, no hospital controlado pelas tropas argentinas, para onde o corpo foi levado.

Apesar das informações iniciais de que as investigações levariam 30 dias, a expectativa é de que esse prazo sejam reduzido por causa da grande repercussão do caso. A ONU ficará responsável pela investigação. No Haiti, o Brasil comandou uma missão de paz da ONU pela primeira vez. Em junho de 2004, o general do Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira assumiu o comando das forças de paz , com objetivo de restabelecer o funcionamento das suas instituições e devolver a normalidade democrática ao país.

A missão começou com cerca de 1.200 soldados, num clima otimista e na expectativa de receber reforços de outros países rapidamente, o que não aconteceu.

Em Salvador, onde descansa, o presidente Luiz inácio Lula da Silva emitiu uma nota na qual lamentou a morte do general e reiterou a determinação do governo brasileiro de continuar colaborando com a estabilização do Haiti.