Título: Bachelet vence eleição com folga
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2006, Internacional, p. A10

SANTIAGO - A socialista Michelle Bachelet será a primeira mulher a dirigir o Chile. Com 99,71% dos votos do segundo turno totalizados, Bachelet tinha 53,49% dos votos, enquanto seu rival da Renovação Nacional (RN), Sebastián Piñera, obtinha 46,5%, de acordo com o terceiro boletim oficial lido pelo subsecretário de Interior, Jorge Correa Sutil. A candidata bateu Piñera em 12 das 13 regiões. Piñera reconheceu a derrota num discurso no qual ressaltou o fortalecimento da coalizão de direita Aliança Pelo Chile, integrada pela RN e pela União Democrata Independente (UDI). Minutos depois, foi até a sede da campanha de Bachelet para cumprimentá-la e deixou-se ser fotografado ao lado dela. ¿Fui vítima do ódio e dediquei minha vida a reverter esse ódio e transformá-lo em compreensão, tolerância e, por que não dizer, amor¿, disse Bachelet diante de meio milhão de partidários em seu primeiro discurso. Ela prometeu trabalhar incansavelmente pelo Chile, ¿pois não temos tempo a perder, são apenas quatro anos.

A vitória de Bachelet dá à Concertação de Partidos pela Democracia ¿ coalizão formada para combater a ditadura de Augusto Pinochet (de 1973 a 1990) ¿ o quarto mandato consecutivo desde a redemocratização do país.

Bachelet, de 54 anos, chega ao Palácio de La Moneda em março, após uma campanha na qual prometeu reduzir a desigualdade social no país. Pela primeira vez desde que chegou ao Executivo, em 1990, a Concertação terá maioria no Congresso, conquistada na votação de 11 de dezembro.

Bachelet foi a candidata mais votada no primeiro turno, em dezembro, com 45,95% dos votos. Piñera, de 56 anos, tinha recebido 26,73% dos votos, mas suas chances de chegar à presidência no segundo turno se ampliaram com a adesão do terceiro colocado do primeiro turno, o candidato da UDI, o ex-prefeito de Santiago Joaquín Lavín.

Logo após a divulgação do primeiro boletim, partidários de Bachelet dirigiram-se aos milhares até a Alameda, no centro de Santiago, iniciando um verdadeiro carnaval. Analistas destacavam o marco histórico que representa a eleição de uma mulher para a presidência do Chile, um país no qual mulheres e homens têm de votar em seções separadas.

O presidente Ricardo Lagos telefonou para Bachelet logo após o anúncio do resultado e a convidou para o café da manhã, hoje. Minutos depois, foi à TV para expressar seu ¿orgulho¿ pela vitória. ¿Este presidente se sente honrado com a tarefa de passar a faixa presidencial a uma mulher¿, disse. Ao mesmo tempo, políticos da RN e da UDI atribuíam a vitória da Concertação ao que classificaram de ¿intervencionismo¿ do governo em favor de sua candidata.

A proibição de qualquer tipo de manifestação partidária nas ruas, incluindo o uso de camisetas e bonés, praticamente apagou da cidade todos os sinais de que havia uma eleição em curso. No incidente mais grave da jornada, o deputado Pablo Longueira, da UDI, partido de direita que deu apoio a Augusto Pinochet, foi agredido por um grupo de ativistas de esquerda ¿ aos gritos de ¿ladrão¿ e ¿assassino¿ ¿ quando chegou para votar no distrito de La Pintana, em Santiago.

Um princípio de tumulto ocorreu também na chegada de Bachelet ao seu local de votação, o Colégio Verbo Divino, em Las Condes. Uma multidão de jornalistas tentava se aproximar da candidata, quando alguns começaram a se agredir, exigindo a intervenção da polícia. Bachelet pediu calma,

Piñera votou sem problemas no centro de Santiago, antes de se dirigir, à Igreja de São Francisco, na Alameda, onde assistiu à missa.