Título: Nasa lança 1ª missão rumo a Plutão
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2006, Vida&, p. A13

O menor, mais distante e mais polêmico planeta do sistema solar vai, finalmente, receber a visita de uma missão espacial. A sonda americana New Horizons deve partir amanhã do Cabo Canaveral, na Flórida, em uma viagem de quase dez anos para estudar o gélido Plutão e sua principal lua, Caronte. Dois mundos tão pequenos e longínquos que, mesmo vistos pelos olhos do poderoso telescópio espacial Hubble, não passam de um borrão luminoso sobre a escuridão do espaço. O objetivo é tentar enxergar de perto aquilo que os cientistas não conseguem averiguar de longe. Carregada com câmeras e vários instrumentos científicos, a New Horizons (Novos Horizontes, em inglês) vai estudar a composição da atmosfera e das superfícies de Plutão e Caronte. O planeta é o único, em quase 50 anos de exploração espacial, que nunca foi visitado por uma espaçonave. ¿É o que nos falta para completar o primeiro nível de reconhecimento do sistema solar¿, disse ao Estado o cientista Ralph McNutt Jr., um dos coordenadores da missão pelo Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.

A missão, de US$ 700 milhões (sete vezes mais do que todo o orçamento anual da Agência Espacial Brasileira), é considerada prioridade máxima pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

No momento do encontro, previsto para julho de 2015, Plutão estará a quase 5 bilhões de quilômetros da Terra, ou 32 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Não é à toa que, mesmo a uma velocidade média de 13 quilômetros por segundo (o objeto mais veloz já lançado pelo homem), a sonda levará nove anos para chegar lá. A essa distância, cada sinal enviado pela New Horizons levará quatro horas e meia para chegar aos pesquisadores, mesmo viajando à velocidade da luz.

Se houver combustível suficiente após a passagem por Plutão, a sonda poderá ser redirecionada para investigar um ou dois Objetos do Cinturão de Kuiper (KBOs), o grande anel de pedregulhos gelados da periferia do sistema solar. O próprio Plutão é um desses objetos, apesar de ter sido classificado como planeta quando foi descoberto, em 1930.

Em sua aproximação máxima, a New Horizons chegará a 10 mil quilômetros de Plutão e 27 mil quilômetros de Caronte. Será um sobrevôo rasante. ¿Não há como pará-la¿, avisa McNutt. Para colocá-la na órbita de Plutão seria preciso uma quantidade muito maior de combustível, o que tornaria a nave muito mais pesada e lenta. ¿É difícil parar quando se está indo rápido. Mas, se não fosse rápido, levaria tempo demais para chegar lá.¿

A New Horizons tem formato e tamanho parecidos com os de um piano. Do total de 478 quilos, apenas 77 são de combustível. A energia para fazer funcionar os equipamentos é de apenas 200 watts, equivalente a duas lâmpadas comuns. Por isso, para poupar energia, a sonda hibernará durante a maior parte do trajeto, sendo acordada apenas ocasionalmente para verificação de sistemas e observações científicas.

POLÊMICA

Plutão e Caronte são tão pequenos que ambos caberiam dentro do Brasil. E por causa da dificuldade de observá-los, os cientistas ainda possuem apenas informações básicas sobre eles. A exemplo de outros KBOs, sabe-se que são formados por uma mistura de rocha e gelo. ¿Em vários aspectos, Plutão se comporta como um grande cometa¿, compara McNutti. Quando está mais próximo do Sol, o gelo da superfície do planeta entra em sublimação (passagem direta do estado sólido para o gasoso), produzindo uma fina atmosfera.

A temperatura média estimada na superfície é de -233 °C. ¿Isso é tão frio que se você jogasse a atmosfera da Terra em torno dele, todo o oxigênio congelaria¿, afirma McNutti. ¿Nada bom, se você está tentando respirar.¿ A missão também permitirá confirmar a existência de duas outras luas de Plutão, detectadas recentemente pelo telescópio Hubble.

A grande dúvida sobre Plutão, entretanto, é sobre sua classificação. Há anos os cientistas debatem se ele deveria perder o status de planeta e passar a ser classificado apenas como um KBO. A questão é muito mais cultural e política do que científica, mas a comparação de Plutão e Caronte com outros objetos do cinturão deverá favorecer uma solução, acredita McNutt. ¿Só mesmo indo até lá para saber o que está acontecendo.¿