Título: Parcelamento sem juro pode virar pesadelo
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

De instrumento vantajoso para financiar as compras, o cartão parcelado sem juros pode virar um pesadelo para os consumidores inadimplentes. A locutora Gilda Ribeiro, de 36 anos, por exemplo, viu a sua dívida mais que dobrar em cinco meses. A despesa financiada num cartão de loja com roupas, que era de R$ 200 na metade de 2005, está em R$ 402 . O motivo foi o atraso no pagamento de uma das cinco parcelas. Gilda conta que ficou desempregada em 2005 e teve dificuldades para pagar em dia. Quando encontrou um novo emprego, procurou a empresa para renegociar a dívida, mas não conseguiu chegar a um acordo. ¿No fim do ano, perdi novamente o emprego, fui assaltada e levaram o dinheiro reservado para quitar a dívida.¿

Resultado: Gilda se viu novamente sem condições de quitar a dívida. O seu nome foi incluído no cadastro de inadimplentes e agora, como ela quer abrir um negócio próprio, precisa limpar o nome para ter uma vida financeira regular. ¿Tenho condições hoje de pagar só a parcela mínima do financiamento.¿

Ela diz que teme que a dívida vire uma bola de neve, com novos encargos e juros sobre o saldo devedor, mas no momento não tem outra saída. ¿Não vou mais comprar no cartão.¿

O promotor de vendas Fernando Silva Nascimento, de 27 anos, que acaba de perder o emprego, é outro consumidor que está desanimado com o cartão de loja. Ele parcelou uma compra de roupas de R$ 268 em cinco vezes sem acréscimo há cerca de um ano, mas não conseguiu pagar as prestações.

Com isso, a dívida subiu para R$ 695, na loja, e para R$ 495, no escritório de cobrança. ¿Pago no máximo R$ 300¿, diz Nascimento. Ele está disposto a entrar com ação no juizado de pequenas causas para obter uma renegociação favorável.

Nascimento diz que atrasar dívidas no cartão é pior que tornar-se inadimplente no cheque. No cartão, incidem vários encargos que fazem a dívida se multiplicar. Já no cheque, a dívida fica restrita ao valor em atraso e é mais fácil renegociar os débitos.