Título: Mercado já aposta em corte de 0,75 na Selic
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Com o resultado da produção industrial de novembro, o analista José Carlos de Faria, do Deutsche Bank em Londres, está revendo para baixo a previsão de crescimento do PIB em 2005, que era de 2,5%. Para ele, o resultado aumenta a possibilidade de o Banco Central (BC) promover um corte maior na Selic na próxima semana, de 0,75 ponto porcentual. Faria esperava uma expansão industrial de 0,7% e o consenso do mercado sinalizava um resultado melhor, de 1,1%.

¿Acreditamos que a desaceleração na atividade industrial tem sido uma conseqüência da política monetária apertada e a valorização do câmbio¿, disse Faria, em nota aos clientes. Ele observou que as médias de três meses mostram que a produção de bens duráveis continua em uma tendência de queda, iniciada em agosto, após viver um período de intenso crescimento.

¿As médias indicam também que os bens de capitais e intermediários continuam estáveis, enquanto os não-duráveis estão declinando novamente, apesar da melhora nas condições do mercado de trabalho¿, disse.

LOYOLA

O ex-presidente do BC e sócio-diretor da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, acredita que o resultado da produção industrial de novembro pode levar o banco a rever o ritmo de queda da Selic, para um corte de 0,75 ponto porcentual, no máximo.

A produção cresceu 0,6% em comparação a outubro e ao mesmo período do ano anterior. ¿O resultado ficou muito aquém da própria previsão do BC. Na verdade, a produção se recupera de forma muito lenta, e provavelmente significa um número aquém das expectativas de dezembro¿, afirmou. Para Loyola, o resultado do IPCA de dezembro, que sai amanhã, deve reafirmar a tranqüilidade do BC com a inflação e endossar a necessidade de cortes mais fortes.

Apesar do resultado fraco, Loyola se mantém otimista nas projeções para 2006: ¿Na presença de juros reais menores e na continuidade de uma situação internacional favorável, a economia brasileira tem todas as condições para apresentar uma taxa de crescimento acima da verificada em 2005, em torno de 3%, 3,5%. Isso, se o BC continuar derrubando os juros¿.

Para a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, o resultado fraco da produção industrial em novembro mostra ¿um arrefecimento do nível de consumo, mais notadamente registrado numa desaceleração de bens de consumo durável¿.