Título: 'Aumento do preço do álcool é normal e cíclico'
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

O produtor de álcool João Carlos Figueiredo Ferraz, diretor-presidente da Crystalsev, é um dos representantes do setor sucroalcooleiro que estará amanhã na reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros para discutir a alta do preço do álcool. O que os produtores dirão ao governo para justificar o aumento do preço do álcool? Os produtores vão tentar mostrar que a alta do preço é cíclica e normal no mercado. Com o início da safra, nos próximos meses, o preço cairá, como sempre acontece.

Há produtores estocando o produto para vender na alta? Ou produzindo mais açúcar para lucrar mais?

Os produtores não estão segurando o álcool. Temos condições de exportar hoje com preço equivalente ao do mercado interno, mas nossa preocupação maior é garantir o abastecimento interno. O preço do álcool está mais vantajoso para o produtor do que o do açúcar. Os produtores temem uma intervenção do governo no mercado de álcool?

Não, pois o bom senso nos leva a crer que a intervenção não faz sentido. O Brasil conseguiu depois de muitos anos trabalhar com liberdade de mercado. É o único país do mundo onde isso acontece. Não há hoje nenhum subsídio ou proteção para o açúcar e o álcool. É o que todo país adoraria ter. Não faz sentido falar em intervenção. Em 2003 o governo também convocou os produtores. O que aconteceu na época?

O problema em 2003 não era tanto com o preço, mas com o abastecimento. O governo tinha receito de que o estoque não fosse suficiente. Na época antecipamos a safra, e faremos isso novamente este ano.

O que vocês sugerem para melhorar as condições do mercado? Para moralizar o mercado seria necessário uniformizar as alíquotas de ICMS, que variam de 12% (São Paulo) a 29% (Rio Grande do Sul). Isso cria distorções e desvios por parte de algumas distribuidoras. O resultado é sonegação e adulteração. Os produtores estão ganhando dinheiro?

O setor está bem, vive um ciclo positivo tanto para o álcool como para o açúcar. Apesar do câmbio, os preços internacionais favorecem o setor, que vive um período de expansão de produção e de investimentos.