Título: Dívida vai virar trunfo da campanha
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai usar a quitação da dívida brasileira com o Fundo Monetário Internacional (FMI), anunciada ontem, como trunfo da campanha à reeleição. Ele está convencido de que a economia e o programa Bolsa-Família vão redimir seu governo, atingido em cheio pela crise política. É por isso que, neste último ano de mandato, ele aposta em pacotes de bondades para todas as classes e no seu carisma pessoal para enfrentar turbulências e ganhar mais quatro anos. Da operação tapa-buracos à inauguração de hidrelétricas e a anúncios sobre liberação de verbas em viagens domésticas, Lula não poupará esforços para vender a idéia de que foi ¿injustiçado¿ pela oposição e merece outra chance. Na corrida contra o tempo para cumprir promessas de campanha, ele pediu à equipe econômica que faça todos os cálculos possíveis para conceder um salário mínimo de R$ 350. Apesar da melhora, o valor está longe do compromisso assumido em 2002 de dobrar o mínimo.

¿Para nós, o econômico e o social sempre estiveram integrados¿, disse ontem o presidente, na solenidade para anunciar o pagamento da dívida. Lula não conteve o sorriso quando o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, elogiou sua gestão, a equipe econômica e a política monetária, apesar dos juros altos.

Alheio ao fogo amigo entre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Rato deu um conselho ao governo: ¿Não se pode relaxar a disciplina fiscal após colher os primeiros frutos¿. A afirmação foi recebida com satisfação por Palocci, mas causou arrepios na ala ¿desenvolvimentista¿do PT, que apóia a pressão de Dilma para liberar recursos para investimentos.

Petistas também não gostaram quando Rato destacou que o FMI continuará a ser ¿parceiro importante¿ do governo no debate das reformas necessárias para ¿ajudar o Brasil¿.

Contrariado com a ¿falta de reconhecimento¿ do PT, Lula acha que seu governo pecou por falhas de comunicação ¿ não divulgando obras e ¿realizações¿ importantes ¿, mas considera que é possível recuperar o tempo perdido. Para ele, apesar da crise, 2006 é que será o ano do ¿espetáculo do crescimento¿.

A projeção oficial fala em crescimento de 4% neste ano. Em 2002, o programa de governo de Lula previa que o governo petista resgataria a ¿vocação¿ do País para crescer 7% ao ano.