Título: Lula garante que economia não enfrentará turbulência eleitoral
Autor: Fabio Graner e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. B6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou ontem ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que, neste ano de disputa eleitoral, não serão repetidas as turbulências de 2002 no mercado financeiro e econômico. Em solenidade preparada só para oficializar o anúncio do pagamento antecipado de parcela de US$ 15,5 bilhões, no Palácio do Planalto, ele sugeriu que é improvável a vitória de um candidato à Presidência que prometa mudanças radicais na economia. ¿Assim como na esfera econômica, não há lugar no jogo político para quem busca gerar esperança e motivação oferecendo facilidades irreais¿, disse. ¿Os brasileiros sempre foram capazes de encontrar confiança no futuro a partir de uma visão clara e lúcida dos problemas e desafios.

¿ Ao lado do diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, convidado de honra da cerimônia, Lula cobrou uma relação de mais ¿qualidade¿ do Fundo com o País a partir de agora. No discurso de 15 minutos, quase todo escrito, o presidente disse que o Brasil deseja uma presença mais ativa no FMI.

¿Há anos temos indicado a necessidade de aumento das cotas e da influência dos países em desenvolvimento, inclusive a nossa, no organismo.¿

Foi uma festa atrasada. O governo anunciou o pagamento antecipado da parcela em 13 de dezembro. Mas o assunto só foi tratado dias depois pelo próprio presidente em viagens pelos grotões do País, como Santana (AP) e Garanhuns (PE).

Diante das críticas internas à falta de uma comunicação eficiente, Lula transformou a visita de Rato em evento especial. Chamou empresários, como o ex-presidente da Febraban Gabriel Jorge Ferreira, ministros da casa e parlamentares. Até a imprensa teve acesso à sala de audiências, onde ocorreu a parte aberta da reunião. Uma primeira parte foi no gabinete do presidente.

SUBSÍDIOS

Lula pediu ao FMI apoio à diplomacia brasileira no combate aos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos. Também pediu a redução da dívida de países pobres e novos mecanismos de financiamento.

Na reunião aberta, Lula sentou-se à mesa com Rato, os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil) e o presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Antes da parte aberta do encontro, eles se reuniram no gabinete presidencial. Alguns empresários estrangeiros e brasileiros acompanharam a parte aberta do encontro.

O presidente assegurou empenho para impedir que interesses eleitorais comprometam a estabilidade financeira. ¿No que depender de mim e do governo, o cenário econômico e financeiro deste ano eleitoral será diferente daquele de 2002¿, afirmou. ¿Não tomarei medidas que produzam vantagens aparentes no curto prazo e causem problemas adiante¿, completou. ¿Meu único compromisso é com o bem-estar atual e futuro do povo brasileiro.¿

Lula disse que a visão da sociedade e das principais lideranças políticas brasileiras pesou na decisão da comunidade internacional de prestar ajuda econômica ao País no segundo semestre de 2002. ¿Na ocasião, o então diretor-geral do Fundo e atual presidente da Alemanha, Horst Köhler, se aliou aos dirigentes de países amigos e parceiros e conseguiu dobrar a resistência dos céticos que não acreditavam que o Brasil pudesse vencer tamanha crise financeira¿, lembrou.

¿Mostramos que os pessimistas estavam errados. Mais rapidamente e de forma mais cabal do que até mesmo os mais otimistas poderiam supor, fomos capazes de provar o acerto de quem soube confiar no Brasil.¿

Depois de ler o trecho escrito, Lula disse de improviso que o crescimento, o desenvolvimento, a distribuição de renda e um forte investimento em educação serão metas e compromissos do governo.

¿Tenha a clareza de que, finalmente e definitivamente, o Brasil encontrou o caminho¿, afirmou, com jeito de candidato.