Título: Na 1ª emissão do ano, governo capta US$ 1 bi
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

O governo voltou ontem ao mercado internacional, na primeira emissão externa do ano, e captou US$ 1 bilhão em títulos com prazo de vencimento de 31 anos, em 2037. O Brasil aproveitou os ventos favoráveis de forte liquidez do mercado externo para investimentos em títulos de países emergentes e o nível histórico mais baixo do risco país. Com o risco em queda, o custo da operação para o Tesouro Nacional caiu e os investidores pagaram mais pelos papéis brasileiros.

A operação, anunciada pelo secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani, foi considerada bem-sucedida. O Tesouro pagou um spread (diferença em relação aos títulos do Tesouro) de 295 pontos-base acima dos papéis americanos de prazo semelhante. Foi o menor spread desde 1996. O UBS Investment Bank e o Deutsche Bank coordenaram a emissão. O dinheiro entrará nas reservas internacionais no dia 18.

A captação brasileira era esperada pelo mercado financeiro e segue o caminho aberto pela Turquia, Filipinas e empresas privadas que já fizeram captações este ano. Com os recursos da emissão de ontem, subiu para US$ 4,5 bilhões o total captado pelo Tesouro para honrar o pagamento dos títulos da dívida externa que vencem este ano. Em quatro operações, em setembro e novembro de 2005, o governo captou US$ 3,5 bilhões.

A estratégia de emissões para 2006 e 2007 do Tesouro considera uma captação total de US$ 9 bilhões nos dois anos. Assim, o governo inicia 2006 com uma situação confortável de caixa para enfrentar eventuais mudanças de humor no exterior ou turbulências que possam surgir com as eleições presidenciais.

Denominados em dólar, os papéis emitidos ontem foram vendidos com taxa de retorno ao investidor de 7,557% ao ano. O custo do título ficou em 7,125% anuais. A demanda dos investidores foi de US$ 3,2 bilhões.

Segundo uma fonte ouvida pelo Estado, o governo aproveitou o momento histórico de nível de juros no mercado internacional e o apetite maior dos investidores para lançar um papel de maior prazo de vencimento e alongar a dívida. ¿O resultado foi muito bom. Há menos de 10 anos, os títulos do Tesouro americano com prazo semelhante eram vendidos com esse nível de taxa¿, ressaltou a fonte.

É a primeira vez que o Tesouro vende um título com prazo de vencimento em 2037 ¿ que vai se tornar o mais longo da curva de juros da dívida externa brasileira. O papel mais longo da dívida externa, o Global 2040, tem uma cláusula chamada `call, que permite ao Tesouro recomprá-lo a 100% do valor de face a partir de 2015. Com isso, na prática, o Global 2040 acaba tendo prazo menor.

A operação alimentou os rumores crescentes entre os analistas do mercado financeiro de que o Tesouro pode em breve recomprar títulos mais antigos, os bradies que foram emitidos na época da renegociação da dívida externa, na década de 90, e totalizam hoje USS 8,5 bilhões.

DÍVIDA ZERADA

O secretário-adjunto do Tesouro destacou ontem que a dívida externa em C-Bond foi zerada pelo governo. ¿O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deve ter feito confusão ao falar em redução gradual da dívida em C-bonds.

¿ Segundo ele, o pagamento antecipado da dívida ao FMI levará a uma economia de US$ 900 milhões com juros, mas não sabe quanto o País economizaria em juros se quitasse a dívida em bradies.