Título: Resoluções contraditórias tiram rumo da legenda
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Um vaivém de diretrizes desorienta o PT. Desde dezembro de 2001, quando foi realizado o 12º Encontro Nacional do partido, em Olinda, ao menos três documentos relevantes foram produzidos, com resoluções contraditórias. As idas e vindas escancaram a dificuldade que o PT tem para lidar com a economia, mesmo depois de passar pelo divã do governo. Escrito pelo então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o texto batizado de A Ruptura Necessária dizia que, eleito, Luiz Inácio Lula da Silva deveria denunciar o acordo com o FMI e renegociar a dívida em "condições soberanas". Mais: que a evolução do déficit público não poderia estar sujeita a metas de longo prazo ou concepções anacrônicas, "marcadamente ortodoxas e monetaristas", que postulam o orçamento equilibrado como valor absoluto. Pregava, ainda, metas de geração de emprego e investimento social.

Seis meses depois, em plena campanha de Lula à Presidência, a Carta ao Povo Brasileiro deu uma guinada no discurso petista. Feita sob medida para tranqüilizar o mercado, a carta divulgada em junho de 2002 prometia "preservar o superávit primário" o quanto fosse necessário para impedir que a dívida interna aumentasse. Na época, Lula fez uma profissão de fé pela austeridade econômica.

Passada a eleição, os radicais espernearam. Não adiantou. Preocupados com o conservadorismo da gestão Lula, os moderados também passaram a cobrar mudanças na economia. Mas, em abril do ano passado - dois meses antes da crise do mensalão -, o então todo-poderoso Campo Majoritário conseguiu aprovar Bases de um Projeto para o Brasil, roteiro daquilo que pretendia ser o novo ideário do partido.

A intenção era moldar o PT para a campanha da reeleição de Lula à moda do governo. O texto defendia o equilíbrio fiscal e orçamentário como "alicerce da existência de uma moeda nacional com um mínimo de credibilidade". A crise, porém, obrigou o partido a adotar figurino mais à esquerda.