Título: Presidente sabatina auxiliares para buscar marca
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Nacional, p. A4

Lula quer saber o que é feito para divulgar obras e não se cansa de falar em inaugurações

BRASÍLIA - Em busca de uma marca popular para carimbar sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito várias sabatinas com auxiliares. Motivo: quer saber tudo o que todos estão fazendo para divulgar obras e projetos sob o mote "mais desenvolvimento, menos desigualdade". O slogan foi escolhido como síntese do governo no balanço de fim de ano e pode ser usado na campanha à reeleição ao lado do surrado "crescimento econômico com inclusão social". Sem marqueteiro, Lula continua se queixando da comunicação. "Nós construímos muito e mostramos muito pouco", diz. A ordem do presidente para a equipe é divulgar as "realizações", comparar os principais números da gestão petista com os da administração Fernando Henrique Cardoso e transformar os maiores colégios eleitorais do País num "bolsão de obras", uma estratégia para conquistar a classe média.

No tête-à-tête com seus auxiliares, Lula não se cansa de falar em inaugurações, da operação tapa-buraco às hidrelétricas. Parece viver num mundo próprio, no qual a crise política não existe. Num movimento definido por analistas como "síndrome do marco zero", insiste em que nunca um presidente fez tanto quanto ele.

Na lista das "obsessões" citadas por Lula estão a geração de empregos, o mais baixo risco país da história, os programas Bolsa Família, de Agricultura Familiar e Biodiesel, o aumento das reservas cambiais e o pagamento antecipado da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Essa eleição será marcada por uma briga de projetos", prevê o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. Para ele, o governo FHC "não tem números para mostrar" na área social. "Na numerologia das realizações, fizemos muito mais. Os tucanos que apresentem seus indicadores. Contra fatos não há argumentos", desafia.

Na outra ponta, o secretário-adjunto de Organização do PT, Francisco Campos, diz ser necessário encontrar com urgência um mote para vender na campanha. "Em 2002 foi a esperança, mas agora vamos enfrentar a dura realidade", lamenta. "Estamos numa encalacrada." Diante da pergunta sobre a marca do governo, Marco Aurélio Garcia, assessor de Relações Internacionais de Lula, não contém a ironia. "Marca? Eu espero que seja Giorgio Armani", brinca.