Título: Garotinho corre por fora
Autor: Ricardo Noblat
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Nacional, p. A8

Imagine a seguinte situação: toca o telefone, você atende e uma voz do outro da linha o saúda: "Bom dia, temos aqui um recado de Anthony Garotinho, quer ouvir?" Se você cometer a bobagem de responder que sim, será soterrado por uma avalanche de perguntas: "O que você acha de Garotinho? Ele tem chance de ser candidato a presidente? Foi um bom governador? Você votaria nele nas prévias do partido?" Esse é o teor de telefonemas que deputados, senadores e filiados em geral do PMDB recebem dia após dia desde o segundo semestre do ano passado, disparados pela equipe de apoio à candidatura de Garotinho à Presidência da República. O ex-governador do Rio deixou as ruas de lado (mas não os programas de rádio) e trabalha dentro do partido para ser candidato à sucessão de Lula, em quem já votou três vezes.

O PMDB marcou para 5 de março a convenção que escolherá o candidato, mas tudo indica que ela será adiada. Na cúpula do partido, há os que resistem ao nome de Garotinho por julgá-lo um aventureiro, embora defendam o lançamento de um candidato próprio; e há, em número cada vez menor, os que sonham em emplacar o vice na chapa de Lula. O vice tem nome: Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal, prestes a se aposentar.

A preocupação de Garotinho também tem nome: Rosinha. Se ele não for candidato a presidente e quiser disputar uma vaga no Senado ou na Câmara dos Deputados, Rosinha será obrigada a renunciar ao governo até o fim de março - do contrário, o grau de parentesco dos dois tornará Garotinho inelegível. Uma eventual transferência para abril da convenção do PMDB, portanto, deixaria Garotinho pendurado na brocha.

Deixaria também Germano Rigotto, governador do Rio Grande do Sul, que pretende ser candidato. Ele largará o cargo em fevereiro para ir atrás dos votos dos convencionais do PMDB. Engolirá muita poeira. Garotinho corteja os diretórios do PMDB desde meados do ano passado. No total, são cerca de 15 mil filiados com direito a voto. Uma pesquisa feita em dezembro último por telefone conferiu a Garotinho quase 60% dos votos.

Mas ele sabe que isso não significa muita coisa. A maioria dos filiados é composta por vereadores, sujeitos à pressão de deputados - por sua vez sujeitos à pressão dos governadores. Garotinho conta de fato é com a ajuda das pesquisas nacionais de opinião pública. Na mais recente aplicada pelo Ibope, ele aparece em terceiro lugar atrás de Lula e de Serra, e empatado com Alckmin quando este substitui Serra.

"Se eu for candidato a presidente, sei como vou trabalhar" adiantou Garotinho em entrevista exclusiva a Leandro Colon, repórter do blog. "Vou mostrar que o PT e o PSDB são iguais em tudo: na política econômica e na prática da corrupção." Lula teme Garotinho porque ele lhe toma votos nas periferias das grandes cidades e em meio aos evangélicos. O PSDB também teme, porque Garotinho quase derrotou Serra no primeiro turno da eleição de 2002.