Título: `Tenho tanto a ver com essas mortes quanto você¿, diz o prefeito Antério
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2006, Nacional, p. A10

UNAÍ - Apontado como um dos mandantes do crime, Antério Mânica (PSDB) foi eleito prefeito de Unaí em plena investigação dos assassinatos de quatro funcionários do Ministério do Trabalho. E com quase 73% dos votos. "Chegaram a dizer que eu ganhei a eleição por ter virado vítima (ao ter o nome envolvido no crime). Não teve nada disso não", assegura. Gaúcho de origem, chegou a Unaí, cidade de 80 mil habitantes, no fim da década de 70. Em pouco tempo, a família Mânica se tornou megaprodutora de grãos no noroeste de Minas Gerais. Com jeito de mineiro, fala mansa, nega qualquer envolvimento na execução dos auditores fiscais e do motorista. "Eu tenho tanto a ver com essas mortes dos fiscais quanto você", disse ele à repórter do Estado, na quinta-feira.

Sentado em seu gabinete, conversou com tranqüilidade sobre o caso. Acredita que seu nome foi envolvido pelo fato de ser irmão de Norberto Mânica - maior produtor individual de feijão do País e também réu no processo.

Os Mânica são apontados como mandantes do crime, assim como os comerciantes Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro. Os quatro estão em liberdade. Há previsão de que sejam levados a julgamento ainda no primeiro semestre deste ano. Além deles, outros cinco homens são réus, denunciados como executores do crime. Eles estão presos em Contagem.

FORO

Dos nove réus, oito devem ser levados a júri popular. Apenas Antério, por ser prefeito e ter foro privilegiado, será julgado pelo Tribunal Regional Federal (TRF).

"Eu acredito nele (Norberto). Ele fala, chorando, que não tem nada com esse negócio. Acho que foi envolvido por estar ligado ao Hugo", diz Antério, referindo-se a um dos comerciantes também citados como mandantes da chacina. Mesmo confiando na inocência do irmão, afirma que não pode responder por ele. "Eu falo por mim."

A última vez que os irmãos se viram, diz o prefeito, foi no almoço de Natal, na casa da matriarca da família. Na semana passada, Norberto estava viajando, segundo o prefeito e um dos advogados.

Enquanto o processo não chega ao fim, Antério continua administrando a cidade, cujo orçamento chega a R$ 50 milhões. E garante que trabalho escravo por lá não existe. Nem em suas três fazendas, nem nas dos irmãos. Parece estar mais preocupado com seu projeto político: assegurar uma vaga na Câmara em 2010.