Título: Inflação do IPC e do IGP-M começa em alta
Autor: FLAVIO LEONEL E ALESSANDRA SARAIVA
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

Índices ficam acima da expectativa e podem levar Copom a não optar por um corte maior do juro básico

Dois índices de inflação iniciaram o ano surpreendendo negativamente o mercado e alterando as expectativas quanto à queda mais acentuada do juro básico. Um deles foi a primeira prévia de janeiro do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que subiu 0,4%, mais de 6 vezes acima da registrada em igual período de dezembro (0,06%), segundo a Fundação Getúlio Vargas. A outra surpresa veio do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) no município de São Paulo, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que subiu 0,46% na primeira prévia de janeiro. Esse índice fechou o mês de dezembro em 0,29%. A maior alta do período foi das despesas pessoais, com 1,21%, ante 0,65% no mês passado.

Apesar de surpreso, o coordenador-adjunto do IPC, Juarez Rizzieri, lembrou que a alta de 0,46% foi inferior à do mesmo período de janeiro de 2005 (0,68%) e de 2004 (0,59%). ¿Sabíamos que seria mais alta que a do fechamento de dezembro (0,29%), mas não na primeira quadrissemana, e sim no fim do mês¿, disse Rizzieri.

¿O mais importante é que o resultado ainda é inferior ao da primeira medição de janeiro de 2005 e de 2004, o que pode ser sinal de mudança de patamar.¿

A incógnita, segundo ele, é se o custo de vida continuará nesse ritmo até o fim do mês. Ele prefere aguardar as próximas pesquisas para mudar as projeções e manteve a estimativa de inflação de 0,45% para janeiro e 4,5% para o fim de 2006 em São Paulo.

O aumento no preço da soja, de 5,74%, levou à aceleração da primeira prévia do IGP-M de janeiro, para 0,4%, ante 0,06% em igual prévia de dezembro.

Foi a maior taxa dos últimos nove meses. O mercado esperava 0,35%, no máximo. O resultado foi atenuado pela FGV, que divulgou ontem o IGP-M. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da fundação, Salomão Quadros, o aumento no preço da soja teve mais força nessa prévia de janeiro ¿ com coleta de preços entre 21 e 30 de dezembro ¿ do que em prévias anteriores.

A razão, segundo Quadros, é que o peso da soja na inflação do atacado praticamente triplicou após as alterações estatísticas feitas pela FGV em dezembro. ¿Não é que o preço da soja tenha subido tanto, é que agora esse produto pesa muito.¿

Com a soja mais cara, os preços dos produtos agrícolas subiram 1,6% na prévia de janeiro, ante queda de 0,22% em igual prévia em dezembro. Nesse cenário, os preços no atacado dispararam, com alta de 0,43%, ante deflação de 0,07% na primeira prévia de dezembro.

REVISÕES

A taxa elevou as estimativas para o IGP-M fechado de janeiro. A consultoria Tendências já prevê 0,6% e não mais 0,3%, segundo a analista Marcela Prada. Também mudaram as expectativas para a queda da taxa Selic.

Juarez Rizzieri, da Fipe, acreditava que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderia promover um corte de até 1 ponto porcentual na reunião da próxima semana, se os primeiros índices de inflação de 2006 não tivessem vindo um pouco acima do esperado.

Ontem, Rizzieri passou a trabalhar com a hipótese de redução de 0,50 ponto. ¿Como o Comitê dá mais ênfase à inflação que ao crescimento, 0,5 ponto eu acho o número mais provável¿, disse.