Título: BNDES: mudar seria `desastre¿
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

Economia asfixiaria sem crédito, diz diretor do banco

A redução do crédito direcionado pode inviabilizar investimentos produtivos e financiamentos habitacionais, avaliou ontem o diretor de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Antônio Barros de Castro. ¿Se for feita de forma rápida, só dá para prever uma coisa: o desastre¿, disse ele. A redução do crédito direcionado foi defendida pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, como uma das cinco reformas que permitirão ao Brasil melhorar o desempenho da economia.

Para Castro, é possível discutir a redução do crédito direcionado no longo prazo. Mas ele considerou ¿estranho¿ o tema ser recolocado no debate neste momento.

¿Essa discussão é velha e ela fazia sentido em 2004.¿ Naquele ano, lembrou, a taxa real de juro estava muito alta, mas a demanda crescia sem parar, de tal forma que o Produto Interno Bruto (PIB) terminou com crescimento real de 4,94%. ¿Saiu-se em busca de explicações para o fato de os juros básicos não derrubarem a economia.¿ Uma das explicações encontradas foi o papel do crédito direcionado na sustentação da atividade econômica.

Em 2005, com a alta da taxa real de juro para 13% ao ano, a demanda foi contida. ¿Aquela anomalia desapareceu, pois a economia brasileira passou a se comportar neste aspecto como todas as outras: quando se tira o oxigênio, a economia asfixia.

¿ Com o efeito da política monetária na atividade econômica, a discussão sobre redução do crédito direcionado desapareceu. Barros disse que não se pode confundir o crédito consignado, destinado a aposentados e a trabalhadores de baixa renda, com o crédito direcionado que é feito pelo BNDES.

Ele diferenciou ainda o crédito destinado ao financiamento habitacional. O principal gestor do crédito direcionado hoje é o BNDES, com os empréstimos à atividade produtiva.

¿Quem investe contra o BNDES geralmente acha que a alocação dos recursos feita por ele é pior do que se fosse feita livremente pelo mercado¿, analisou. ¿No fundo, é a repetição daquela idéia de que se é o Estado que induz está errado. É um equívoco.¿

Para ele, se há no Brasil hoje algo que mereça ser destacado é a ¿melhoria extraordinária¿ da eficiência microeconômica ocorrida no País. ¿A produtividade tem crescido de forma extraordinária nos últimos anos.

¿ O excelente resultado do balanço de pagamentos, disse, é uma demonstração concreta da melhoria da eficiência e da competitividade do País.

¿O mérito é muito das empresas, mas o BNDES participa desse êxito, pois está criando, por prioridade lúcida, mecanismos para que elas aumentem sua produtividade. Sem o banco, o Brasil não estaria com sua economia nos trinques¿, disse.