Título: Brasil e Argentina fixam data para fechar acordo
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Economia & Negócios, p. B5

Para o chanceler Celso Amorim, número de questões em aberto está se reduzindo, e negociação de salvaguardas deve ser concluída até o dia 31

O Brasil se comprometeu ontem com a Argentina a concluir o polêmico acordo sobre as medidas de salvaguardas no comércio entre os dois países até o dia 31 próximo. Rebatizado de Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC), esse mecanismo permitirá a um país aplicar sobretaxas em produtos do país vizinho quando houver aumento abrupto dessas importações, desequilíbrios no crescimento das economias e descompasso nas taxas de câmbio. O mecanismo pode ser adotado pelos dois países. Na prática, é uma forma de disciplinar as medidas que Buenos Aires já vem tomando de forma unilateral para conter a entrada de produtos brasileiros no país.

À imprensa, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que há ¿total boa vontade¿ do governo brasileiro na conclusão do tema, cuja discussão se arrasta há pelo menos um ano e meio, e não haverá ¿atitude protelatória¿ de Brasília. Amanhã, negociadores brasileiros e argentinos tratarão dos detalhes dessa medida em Buenos Aires. ¿O número de questões em aberto está se reduzindo.¿

Essa posição foi dita por Amorim ao lado do novo chanceler da Argentina, Jorge Taiana, que ontem se reuniu no Itamaraty e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar da visita oficial, dia 18, do presidente Néstor Kirchner ao País. As polêmicas sobre a CAC e o novo acordo automotivo bilateral consumiram boa parte das conversas entre os chanceleres, que concordam na necessidade de aprofundar a discussão de uma política industrial comum.

Mas Amorim teve o cuidado de enfatizar que o Brasil está disposto a fazer essa concessão em favor do desenvolvimento dos setores industriais argentinos, mas exige contrapartida dos segmentos que venham a ser beneficiados e um prazo para eliminar as medidas de restrição ao comércio.

¿Às vezes, uma solução deixa de atender outras questões. Discutimos sempre dentro da noção de que haja espaço para a reindustrialização argentina e de que o Mercosul não perca competitividade.¿

URUGUAI

A possibilidade de o Uruguai negociar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos foi tratada com cuidado por Amorim e Taiana. Para eles, quando declarações favoráveis a essas teses aparecem nos sócios menores do Mercosul, é um alerta de que não se sentem beneficiados pelo bloco e de que Brasil e Argentina devem fazer mais por esses parceiros.

Mas Amorim frisou que seria impossível a um sócio do Mercosul negociar individualmente acordos comerciais, ¿a menos que pretenda deixar o bloco, decisão sobre a qual não fomos informados¿.