Título: Com discurso de candidato, Serra ataca política cambial e juros altos
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Nacional, p. A6

O prefeito de São Paulo, José Serra, que vinha evitando o embate direto com o governador paulista, Geraldo Alckmin, dentro do PSDB, rompeu o silêncio ontem e assumiu um discurso de candidato. Na abertura da 33ª Couromoda, em São Paulo, ele atacou duramente a política econômica do governo Lula. Pela primeira vez ao lado de Alckmin desde que o clima esquentou no partido, o prefeito defendeu a redução das taxas de juros e a criação de uma ¿lei de responsabilidade¿ na área cambial. ¿Nossa economia pode funcionar com uma taxa de juros bem menor, com estabilidade e emprego. Vocês estejam certos de que isso é possível e vai ser feito no nosso país.¿

No palanque, ao lado do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Furlan ¿ que depois rebateu as críticas ao governo de Lula ¿, Serra defendeu maior controle da política cambial e formas de compensação para proteger a atividade produtiva. ¿Não basta ter Lei de Responsabilidade Fiscal¿, disse. ¿É preciso ter também lei de responsabilidade cambial. Temos de criar seguros para o câmbio nos momentos de turbulência para a atividade produtiva, que gera renda, impostos e emprego para o nosso país¿, argumentou. ¿Isso pode ser feito com uma política econômica com credibilidade, direção e rumo. É o que o País precisa para o futuro.¿

Segundo o prefeito, a atual política econômica compromete as finanças públicas e ao mesmo tempo provoca desemprego. ¿Esse é o principal desafio do Brasil.¿ A valorização do câmbio, continuou, atingiu um nível excessivo e ficou muito acima da registrada em outros países da América Latina.

Apesar de reconhecer que não é o único fator, Serra atacou a política de juros. ¿Nós gastamos 8% do Produto Interno Bruto (PIB) com juros. E temos uma dívida da ordem de 50% do PIB. A Itália tem 100% de dívida em proporção ao PIB e gasta menos de 3% com o pagamento dos juros¿, comparou.

Questionado depois sobre quem poderia fazer essas mudanças no País, Serra respondeu: ¿A população, através do processo eleitoral deste ano.¿ Em entrevista aos jornalistas, ele amenizou o tom eleitoral de suas declarações. ¿Eu nunca deixei de falar sobre políticas nacionais¿, garantiu. ¿Sou o prefeito de uma cidade intimamente relacionada ao que acontece no Brasil, pelo tamanho, pela importância. Então, questões da política de desenvolvimento estarão sempre presentes em São Paulo.¿

NATURAL

Para Alckmin, que falou em tom mais ameno, a atitude do prefeito é normal. ¿Acho muito natural que ele aborde questões de natureza nacional. É uma das grandes lideranças do nosso país e tem profundo conhecimento das questões nacionais.¿ Mas advertiu que a crítica não é um bom caminho durante a campanha. ¿Quem fizer campanha contra o Lula, contra o PT, corre o risco de falar sozinho. A população quer menos luta política. O grande debate é o do futuro¿, alfinetou.

As críticas de Serra foram prontamente rebatidas pelo ministro Furlan, que, citando lições de seu avô, afirmou: ¿Quem sabe faz, quem não sabe, ensina; e quem não faz nem um nem outro, critica. Infelizmente, no cargo que estou em Brasília, eu vejo isso diariamente.¿