Título: `No dia 1º de janeiro de 2007 todas as reformas estarão em cima da mesa¿
Autor: Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Nacional, p. A4

Governador revela seus planos de candidato e diz que aspecto ético `será central, mas não o único¿ na campanha

Nos últimos dias, o governador Geraldo Alckmin surpreendeu até mesmo aliados ao abandonar seu estilo discreto e ultrapassar a linha imaginária que dava aos postulantes tucanos à Presidência um respiro até meados de abril para colocar oficialmente o nome na praça. Em uma jogada política ousada ¿ pelo menos à luz do estilão que costuma manter em público ¿, Alckmin lançou sua pré-candidatura, anunciou que deixa o governo até 1º de abril e entrou em regime permanente para tornar seu nome conhecido o suficiente para alcançar o de José Serra, imobilizado por não poder entrar na corrida agora, apenas um ano depois de assumir a Prefeitura de São Paulo. Ao sair correndo antes de ouvir o tiro de largada, Alckmin luta para virar um político nacional e já dá ritmo de campanha à sua agenda. À luz do dia, ele costura o apoio de aliados, faz consultas sobre temas que vão da política econômica à reforma tributária e, nas solenidades públicas, espalha declarações de campanha.

Na terça-feira, depois de uma dessas solenidades, Alckmin falou ao Estado em duas fases. Em uma delas, no helicóptero a caminho do Palácio dos Bandeirantes, o governador riu ao lembrar do apelido que conseguiu em seu governo sem factóides ¿ ¿picolé de chuchu¿ ¿ e de vez em quando consultava o secretário Saulo de Castro Abreu Filho sobre os números da Segurança Pública que vem repetindo sempre que pode, como a queda dos homicídios. Na outra etapa, em seu gabinete, ele mostrou fotografias da família e esmiuçou números da sua administração, consultando tabelas ou desenhando gráficos. Em ambas, deixou claro que pretende recorrer à numeralha de sua administração e fazer sua campanha tentando convencer o eleitorado de que, se governou São Paulo, saberia como governar o Brasil.

O senhor deixou de lado a discrição ao colocar o bloco na rua antes do tempo e anunciar que deixará o cargo até o fim de março por causa de sua pré-candidatura à Presidência da República. Pegou mal dentro do partido?

Logo depois do anúncio telefonei para duas pessoas do partido. Uma delas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a grande referência dentro do PSDB. E liguei para o governador de Minas, Aécio Neves, de quem eu gosto muito ¿ é talentoso, tem vocação política e sabe administrar. A conversa com os dois foi muita boa. O PSDB é um partido de quadros, está acostumado a lidar com essas questões. E eu quero ser candidato, vou trabalhar para ser o meu nome. Mas hoje estou pendendo para a medicina chinesa. Estou zen. O futuro está nas mãos de Deus. Agora, na verdade, não acredito em disputa, não... Acho que as coisas vão se aproximando e se resolvendo com o passar do tempo.

O senhor até conta com uma equipe informal para ajudá-lo a pensar um plano de governo. Já há algo de concreto nele?

No dia 1.º de janeiro de 2007 todas as reformas estarão em cima da mesa. Todas. Política é ciência ¿ e ciência exige preparo. Tom Jobim dizia que o Brasil não é para amadores. O País está preparado para dar um salto de qualidade. Aprendemos a controlar a inflação, o regime fiscal melhorou. Mas precisamos agora partir rapidamente desse patamar. Nesse período à frente do governo de São Paulo, aprendi a importância do sentimento de urgência. JK estava certo quando falava de 50 anos em 5. Vi que os governos sempre tendem à inércia, é preciso ficar 24 horas por dia olhando e cobrando para que as coisas funcionem rapidamente. Já sabemos que o problema do Brasil não é de diagnóstico, é de administração. É preciso fazer a reforma tributária, simplificando o modelo que existe aí. Só para o ICMS há 25 leis, 55 alíquotas. É preciso unificar isso tudo, gerar uma eficiência tributária que consiga desonerar o setor produtivo. A reforma trabalhista é urgente. Não se pode manter os encargos sobre a folha de salários que jogam todos para a informalidade.

O que o senhor diz é a promessa de todos os candidatos à Presidência, arquivadas depois de expostas à política miúda de Brasília. Por que o senhor acredita que conseguiria desencalacrar as mudanças que outros não conseguiram?

Alguns itens, como a eficiência dos gastos públicos, só dependem do governo. É o tipo de matéria que não vai para o Congresso, é questão de administração. E é a continuidade e perseverança que mostram a diferença entre falar e fazer. Aqui em São Paulo, o governador Mário Covas assumiu em janeiro de 1995 e não havia dinheiro em caixa para pagar o salário dos servidores. Hoje nosso governo termina com R$ 9,1 bilhões para investimentos em 2006. Os gastos com a folha de pagamento eram de 52,41% em 1999, agora estão em 42,17% ¿ quando o teto legal é de 60%. E em São Paulo houve redução de impostos em mais de 200 itens, com a queda da alíquota do ICMS de produtos como o pãozinho, o iogurte. Ou seja: é possível fazer. O próximo governo já poderá contar com um item da fidelidade partidária, a cláusula de desempenho (que condiciona a eleição de parlamentares à quantidade e distribuição de votos do partido). Isso fará com que o Executivo só precise falar e negociar com os partidos interlocutores e não com cada um dos políticos.

Qual é a diferença entre o senhor e José Serra?

Não há diferença conceitual entre nós dois. Somos do mesmo partido, somos social-democratas, defendemos uma economia de mercado subordinada aos interesses sociais, combatemos o laissez-faire.

Mas o que o senhor diria a um eleitor interessado em saber qual é o melhor nome do PSDB? O que o senhor tem de melhor que Serra?

Não se faz campanha, nem interna, nem externa, apontando defeitos. Fui prefeito aos 23 de idade ¿ veja como o povo não tem muito juízo. Certo dia fiz uma dura crítica ao ex-prefeito, meu antecessor. Achei que tinha feito um brilharico. Mas voltei para casa e ouvi o seguinte conselho do meu pai: possíveis equívocos de seus adversários não aumentam em nada as suas qualidades. Aprendi que não se faz campanha falando mal dos outros.

Então quais são as suas qualidades para o cargo?

Em primeiro lugar: eu sonho. Acho que a maior inclusão social que existe é ter emprego e renda. Não existe solução sem crescimento. Acredito que o Brasil precisa colocar o pé no acelerador e trabalhar por um conjunto de reformas. Sou de uma nova política. Não preciso fazer gritaria, nem muitos discursos, porque temos realizações para mostrar.

Quando o senhor deixar o cargo, assumirá seu vice, Claudio Lembo, do PFL. Se o prefeito José Serra também sair, assume Gilberto Kassab, também do PFL. Como o senhor vê essa possibilidade de o PFL ganhar de presente os dois principais cargos de São Paulo?

Não vejo problema nenhum nisso. Sempre defendi as alianças porque o Brasil tem mesmo essa característica pluripartidária. Claudio Lembo trabalha conosco há mais de três anos, é sério, correto. Deve ficar menos de um ano no governo e já declarou que pretende nesse período ser um continuador do nosso trabalho.

O senhor tem maneira mais técnica de se expressar do que a maioria dos políticos. Se de fato for o candidato do PSDB, como pretende se comunicar com o povão ?

A campanha eleitoral é cada vez mais um embate de personalidades. Por isso o jogo só é jogo quando começam os programas eleitorais gratuitos na televisão e no rádio. O resto é ensaio. Nessa fase, normalmente os discursos ficam muito parecidos. Neste ano o aspecto ético será central, mas não o principal. O eleitor também vai decidir levando em conta a empatia, a história, a experiência. Sentir veracidade no candidato será fundamental. Agora, as pessoas estão cansadas de retórica, sabem que um governo precisa funcionar e funcionar bem. Eu nunca ocupei um cargo que não fosse pelo voto popular. Acho que vou conseguir mostrar, inclusive com base em realizações, que é preciso ter um sonho e ter peito para realizá-lo.