Título: EUA buscam respaldo brasileiro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Internacional, p. A12

WASHINGTON - Empenhados em obter respaldo internacional para submeter o programa de enriquecimento de urânio do Irã ao Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas, os governos da Alemanha, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos iniciaram negociações para garantir o apoio brasileiro. Um dos 35 países com cadeira na Junta de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena, o Brasil terá que se pronunciar se os europeus e os americanos conseguirem convocar uma reunião de emergência da AIEA (agência nuclear da ONU), no mês que vem, para decidir a questão.

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, telefonou na semana passada ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, para pedir o apoio brasileiro. De acordo com fontes oficiais, o chanceler brasileiro registrou a demanda americana, mas não adiantou a posição do Brasil.

A julgar por ações passadas, o Brasil não fará objeção, mas tampouco apoiará uma resolução da AIEA de encaminhar o programa de enriquecimento de urânio do Irã ao CS da ONU, preferindo a abstenção.

A tendência brasileira à abstenção reflete, por um lado, a preferência do País pela solução negociada e, por outro, a preocupação de deixar claras as diferenças entre seu programa de enriquecimento de urânio e o do Irã, que ignorou suas obrigações perante a AIEA e ocultou várias de suas atividades nucleares da agência da ONU durante as duas últimas décadas.

A questão nuclear iraniana apresenta, no entanto, dores de cabeça potenciais para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma delas são as manifestações de apoio ao programa nuclear iraniano por vizinhos do Brasil. Declarações nesse sentido do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já alimentam fortes críticas na imprensa e no Congresso americanos e causam incômodo em Brasília.

Sabe-se, por outro lado, que o governo brasileiro respirou aliviado depois que o presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, cancelou uma escala em Teerã durante seu recente périplo mundial.

A questão iraniana pode, também, reacender as pressões de especialistas em não-proliferação nuclear em Washington, tanto democratas e republicanos, para que o Brasil para voluntariamente com seu programa de enriquecimento.

Essas pressões foram bastante fortes em 2004 e continuaram mesmo depois que o governo e a AIEA chegaram a um acordo sobre os métodos de inspeção da usina de Resende. A administração Bush ignorou-as e o então secretário de Estado, Colin Powell, chegou a dizer que o Brasil ¿é parte da solução e não do problema¿ da não-proliferação. Condoleezza Rice reiterou a posição americana. Mas esta será testada agora pelo agravamento da confrontação nuclear dos EUA e dos europeus com o Irã.