Título: Europa propõe levar Irã à ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Internacional, p. A12

VIENA - A crise sobre a questão nuclear iraniana se intensificou ontem. A França, Grã-Bretanha e Alemanha decidiram pedir uma reunião de emergência da cúpula da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), nos dias 2 e 3, sobre o envio do caso ao Conselho de Segurança (CS) da ONU. Caberia ao CS decidir se aplica sanções contra o Irã por ter retomado na semana passada suas pesquisas para enriquecimento de urânio, rompendo um acordo de 2004 para congelar essa atividade. A decisão de pedir a reunião de emergência foi tomada em um dia de negociações em Londres entre diplomatas da França, Grã-Bretanha, EUA, Rússia e China ¿ países com poder de veto no CS ¿, mais a Alemanha. Todas as seis nações concordaram em que o Irã tem de suspender suas atividades nucleares, já que a direção da AIEA afirma não ter como confirmar se o programa nuclear tem fins pacíficos, como sustenta o governo iraniano. ¿Cabe ao Irã o ônus de agir para dar à comunidade internacional confiança em que seu programa nuclear tem propósito exclusivamente pacífico¿, disse o chanceler britânico, Jack Straw.

Russos e chineses mantêm boas relações comerciais com Teerã e relutam em ir além da pressão diplomática. Enquanto prosseguia o encontro em Londres, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou em Moscou que a questão deveria ser resolvida ¿sem passos abruptos nem equivocados¿. Ao mesmo tempo, Putin disse que a posição russa é ¿muito próxima da dos EUA¿ e aliados europeus. Já o governo chinês foi sucinto: divulgou um comunicado enfatizando a necessidade de ¿contenção¿ e de solução da crise através de negociações.

À noite, a chancelaria britânica admitiu que Rússia e China não chegaram ao ponto de exigir que o caso seja levado ao CS. Ao mesmo tempo, o embaixador do Irã em Moscou, Gholamreza Ansari, que normalmente adota um tom mais moderado do que o de seu governo, elogiou a proposta russa, apresentada no ano passado, de transferir o processo de enriquecimento do urânio iraniano para usinas russas ¿ uma medida que resolveria o impasse e seria aceita pelos EUA e aliados da União Européia.

O Irã tem o direito de enriquecer urânio para uso pacífico em usinas nucleares, que o país alega terem como objetivo a produção de energia elétrica. No entanto, americanos e europeus desconfiam que o país pretenda fabricar armas atômicas já que nos últimos anos escondeu da AIEA várias atividades e instalações nucleares cuja existência era obrigado a declarar. Após a posse do ultraconservador Mahmud Ahmadinejad na presidência, em agosto, os temores do Ocidente se agravaram, pois ele declarou que ¿Israel deveria ser varrido do mapa¿.

Ontem o Irã proibiu a TV a cabo CNN de atuar no país porque errou na tradução do discurso de Ahmadinejad, no sábado. A emissora afirmou que ele dizia que ¿o uso de armas nucleares é um direito no Irã¿. Na verdade, ele disse que ¿a energia nuclear é um direito do Irã¿. A CNN se desculpou no domingo à noite.