Título: Bachelet começa a formar gabinete
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Internacional, p. A14

SANTIAGO - No dia seguinte a seu incontestável triunfo no segundo turno da eleição presidencial do Chile, Michelle Bachelet, recebeu ontem em sua casa, em Santiago, o presidente Ricardo Lagos para um café da manhã. Ela se reuniria mais tarde com vários dirigentes partidários da Concertação, a coalizão de partidos que governa o Chile desde 1990, para começar a desenhar a formação de seu gabinete.

A julgar pelo que deu a entender em vários discursos e na entrevista coletiva que concedeu ontem para meios de comunicação chilenos, vários postos do Executivo serão ocupados por mulheres.

De acordo com jornalistas chilenos, durante o café da manhã com Lagos, o presidente convidou Bachelet a viajar com ele para La Paz, para a posse do presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, no domingo.

Na coletiva, Bachelet esquivou-se de confirmar o convite.

¿Na verdade, não projeto nenhuma viagem até a posse¿, disse a primeira mulher da história chilena a se tornar presidente. ¿Só a partir de agora vou começar a planejar tudo que deverei fazer.¿

Indagada sobre como lidará com as questões de política externa na América do Sul, Bachelet afirmou que se dedicará à busca de acordos comerciais com todos os países da região. ¿Temos de desenvolver uma política exterior que nos permita chegar aos melhores acordos, os melhores avanços com os países vizinhos, pois os desafios que temos em comum são muitos. Com boas políticas de integração e cooperação, mas sempre levando em conta o bem-estar e os interesses dos chilenos, vamos levar adiante as relações com nossos vizinhos e seus presidentes democraticamente eleitos¿, disse Bachelet.

O Chile mantém uma disputa histórica com a Bolívia, que reivindica a devolução de pelo menos parte de sua costa marítima perdida na Guerra do Pacífico. Também preocupa o Ministério de Relações Exteriores do Chile a possibilidade da eleição em abril do militar nacionalista peruano Ollanta Humala, que tem uma retórica marcadamente anti-Chile.

No plano interno, Bachelet reiterou que manterá o bem-sucedido modelo econômico chileno, mas destacou que a principal meta de seu governo será a redução da desigualdade social do país.

¿Temos apenas quatro anos para fazer isso e não temos direito de errar¿, afirmou Bachelet, lembrando que a reforma constitucional realizada no ano passado reduziu de seis para quatro anos o mandato presidencial.

¿Com a autonomia e a independência que eu acho que um presidente deva ter, disponho-me a levar todo o tempo que julgar necessário para nomear o gabinete. Não me dei um prazo para isso, o importante é o resultado¿, declarou. ¿Faço questão de ter um ministério formado pelos melhores e pelas melhores¿, acrescentou a presidente eleita.

Respondendo a um repórter chileno durante a coletiva, Bachelet, que é separada, assegurou que ela mesma se encarregará das atribuições normalmente destinadas às primeiras-damas.

Mais uma vez, demonstrou uma certa irritação com as perguntas sobre sua vida pessoal. ¿Eu ficaria encantada em saber se você faria uma pergunta semelhante se o presidente eleito fosse um homem¿, declarou Bachelet.