Título: 'Todos batem e só um apanha'
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Economia & Negócios, p. B7

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, seguiu a recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial no fim de 2005, e defendeu ontem o governo com veemência das críticas feitas por empresários e políticos na abertura da Couromoda em São Paulo. ¿Eu me sinto um pouco como no ano passado (na edição anterior da Couromoda), em que tem um para apanhar e todo mundo para bater.¿ Furlan foi precedido pelos presidentes da Couromoda, Francisco Santos; da Associação Brasileira de Logística e Calçados e Artefatos de Couro, Antonio Espolador Neto; da Abicalçados, Élcio Jacometi, e da Fiesp, Paulo Skaf; pelo governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), e pelo prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB).

Todos criticaram o desempenho do setor calçadista em 2005, com queda de produção de 40 milhões de pares, e responsabilizaram a política monetária do governo Lula ¿ que resulta, segundo eles, na valorização do real ante o dólar e nos ¿juros mais elevados do mundo¿; a alta carga tributária do setor e ausência de linhas de crédito para capital de giro e financiamento às exportações, além da ¿concorrência desleal¿ dos chineses.

¿Realmente, o ano de 2005 não foi para sopa, mas o setor cresceu. Houve queda só para o mercado Nafta, de 23 milhões de pares, representando algo entre US$ 80 milhões a US$ 90 milhões¿, respondeu o ministro. ¿Para Europa e novos mercados, houve aumento em volume e em valores.¿ Admitiu que houve queda em volume para Chile e Argentina, mas o valor das vendas subiu US$ 80 milhões.

O ministro citou até um pensamento do avô dele, Atílio Fontana, fundador da Sadia: ¿Quem sabe faz, quem não sabe ensina; quem não faz nem um e nem outro, critica¿. Assim, ele recomendou aos empresários que apresentem sugestões para que o setor retome o melhor desempenho.

Lembrou que o Banco Central duplicou em um ano as reservas do País, comprando ¿praticamente todo o superávit das exportações¿ em dólares, para impedir uma valorização maior do real. ¿As reservas dobraram, com um aumento de US$ 30 bilhões, e isso não foi suficiente (para impedir a valorização do real). Outras medidas precisam ser colocadas e estamos abertos a sugestões.¿

Segundo Furlan, a relação entre a dívida externa e as exportações caiu da proporção de 3 x 1 (3 anos de exportações para quitar a dívida externa) para ¿menos de 1,4 x 1¿ no governo Lula. ¿Logo estará em 1 x 1 e é isso o que reduz o risco do País e faz com que os juros dos papéis brasileiros caiam no exterior. Só falta cairem aqui dentro.¿

Como exemplo de que a prioridade do governo é desonerar investimentos e operações de exportação, Furlan citou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) criou financiamentos em moeda nacional para pré-embarques de exportações e tem reduzido os spreads em pelo menos 1 ponto porcentual.

O ministro também acrescentou que o governo tem procurado combater casos de fraudes e falsificações no setor, acertou com os outros sócios do Mercosul a aplicação da alíquota de 35% da Tarifa Externa Comum (TEC) para os quatro produtos responsáveis por 80% das importações do setor, e ainda negocia a extensão dessa tarifa para os 20% restantes. ¿Nem tudo são más notícias.¿

O ministro lembrou que, em 2005, foram criados 3,5 milhões de empregos com carteira assinada e as contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foram superavitárias. Houve ainda aumento de arrecadação de impostos sobre renda e redução de impostos como IPI e imposto de importação para produtos ¿ex-tarifários¿.

Voltando-se ao prefeito José Serra, que criticou o ¿processo de desindustrialização¿ no País, disse que todas as economias do mundo desenvolvido estão mais concentradas no setor de serviços e que no Brasil este processo não seria diferente.