Título: Kirchner insistirá no debate de salvaguardas
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Economia & Negócios, p. B8

BUENOS AIRES - O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, chega a Brasília na quarta-feira para tentar resolver algumas pendências comerciais com o presidente Lula. Na primeira visita de Estado ao País, Kirchner vai debater com Lula o regime automotivo comum e medidas protecionistas para as indústrias argentinas, entre outros temas. A visita será uma retribuição da viagem de Lula a Buenos Aires, em outubro de 2003, quando os dois presidentes ainda viviam um idílio político. Pouco depois, a relação se deteriorou porque Kirchner intensificou os ataques a uma suposta invasão da Argentina por produtos brasileiros, começando pelos eletrodomésticos.

No segundo semestre de 2005, Kirchner moderou o discurso e os dois voltaram a aproximar-se. A idéia, agora, é avançar na definição da Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC), mecanismo com o qual quer evitar invasões de produtos de um sócio e também proteger setores industriais debilitados.

Além disso, Kirchner quer evitar que o Brasil seja o preferido dos capitais internacionais no Mercosul. Por isso, levará a Brasília a ministra da Economia, Felisa Miceli, e sua equipe, além do chanceler Jorge Taiana e os principais negociadores argentinos no Mercosul.

O presidente argentino quer que o governo Lula aceite uma política comum para a entrada de investimentos estrangeiros no Mercosul. Para ele, nos últimos anos a nata dos investimentos foi para o Brasil. A equipe econômica argentina também continuará as discussões sobre o novo regime automotivo para entrar em vigor dia 1º de julho. Um dos pontos de atrito é que Kirchner pretende manter-se firme na posição de não aceitar o livre comércio nesse setor.

CHÁVEZ, MORALES

Na quinta-feira, Lula e Kirchner vão se reunir com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. No encontro, Kirchner deverá pedir a Chávez que acelere a construção do gasoduto que levará gás venezuelano até a Argentina, passando pelo Brasil.

Antes do encontro com Lula e Chávez, Kirchner receberá, nesta terça-feira, o presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, por quatro horas, a quem pedirá para não aumentar o preço do gás boliviano exportado para a Argentina.