Título: Embraer anuncia reestruturação
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2006, Economia & Negócios, p. B14

A fabricante de aviões Embraer anunciou ontem a intenção de pulverizar seu controle acionário, estendendo o direito de voto a todos os acionistas e limitando em 5% a participação de cada um. Pela proposta da diretoria da empresa, anunciada em fato relevante e que será apreciada pelo Conselho de Administração na próxima quinta-feira, as ações preferenciais serão todas transformadas em ordinárias. A mudança permitirá à empresa ingressar no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo. No comunicado, a empresa afirma que a nova estrutura de capital tem por objetivo aumentar sua ¿capacidade de financiamento¿. Está prevista a criação de uma nova sociedade que incorporaria a Embraer e, inicialmente, todas as 145,527 milhões de ações ordiárias de emissão da própria Embraer.

Privatizada em 1994, a Embraer é hoje controlada pela Companhia Bozano e pelos fundos de pensão Previ e Sistel, por meio de um acordo de acionistas. Cada um detém 20% das ações ordinárias. Conjuntamente, elegem a maioria do conselho de administração.

A União detém a Golden Share, com direito a veto sobre encomendas militares, participação de estrangeiros no capital e questões relacionadas à marca Embraer. A proposta não altera a participação máxima de 40% permitida a estrangeiros no ato de privatização.

A proposta foi bem recebida pelo mercado. ¿A nova estrutura é positiva e, para o minoritário, os ganhos são bem maiores do que eventuais sacrifícios de ver suas participações diluídas. O Novo Mercado traz uma proteção a mais para o minoritário¿, avalia o analista Alexandre Garcia, da corretora Ágora Sênior. ¿É uma notícia bastante positiva para as ações, mas não podemos esquecer que os fundamentos da empresa continuam enfraquecidos¿, completa a analista do BES Securities, Elaine de La Rocque.

Ao migrar para o Novo Mercado, nível mais alto de governança corporativa, a Embraer poderá atrair uma série de investidores institucionais estrangeiros, como fundos de pensão, que impõem restrições a empresas com mais de um tipo de ação, entre outras questões ligadas à governança corporativa.

Na avaliação do mercado, os grandes beneficiários da operação serão os atuais controladores. ¿Há um mês e meio eles tinham uma ação que valia R$ 15 com baixíssima liquidez. Hoje ela está se aproximando de R$ 22 ¿ valorização de 43% ¿ e vai ganhar cada vez mais liquidez¿, afirma Garcia.

O fato é que as ações ordinárias da Embraer andavam ¿esquecidas¿. A diferença de preço entre ordinárias e preferenciais chegou a 40% ¿ talvez a maior do mercado brasileiro. Essa diferença foi sendo gradualmente reduzida nas últimas semanas e ontem caiu para 5%: as ordinárias fecharam em R$ 21,59 (ganho de 5,37%) e as preferenciais, em R$ 22,7 (queda de 2,78%).

Rumores sobre mudanças no controle da empresa circularam no mercado nas últimas semanas. Em meados de dezembro, um número atípico de operações em um único dia chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que, na época, afirmou que a questão seria analisada.

¿Causa certa estranheza o fato de a empresa ter declarado na sexta-feira, após a publicação de reportagem sobre a operação no jornal Valor Econômico, que estava estudando o assunto e, agora, divulgar todos os detalhes¿, diz Elaine, da BES Securities.