Título: Governo conta com reação do PIB no trimestre para ajudar reeleição
Autor: Lu Aiko Otta, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Expectativa é que bons resultados encubram mau desempenho de 2005 e não atrapalhem a campanha de Lula

BRASÍLIA - A economia dará sinais de retomada de crescimento da atividade já no primeiro trimestre deste ano, puxada pelo consumo. Essa é a avaliação no Ministério da Fazenda. Os técnicos acreditam que o desempenho ruim do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, de crescimento em torno de 2%, rapidamente será uma página virada e não deverá atrapalhar a campanha para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há, porém, uma travessia delicada até que os primeiros números favoráveis surjam. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda está calculando o PIB do quarto trimestre de 2005 e o número fechado do ano, que estarão longe de representar o "espetáculo do crescimento" prometido por Lula.

Com isso, aumenta a pressão para que os diretores do Banco Central (BC), reunidos no Comitê de Política Monetária (Copom), continuem baixando a taxa de juros, de preferência acelerando o ritmo, para tornar concretas as previsões otimistas de crescimento para este ano. O fato de a indústria ter crescido só 0,6% em novembro em relação a outubro surpreendeu negativamente o governo, que esperava um número mais robusto, e engrossou o coro por cortes mais ousados nos juros.

"Foi um resfriamento maior que o esperado, resultante da política monetária do Banco Central e do câmbio em queda", disse um integrante da área econômica, para quem o dado indica que a retomada do crescimento neste ano ocorrerá de forma mais lenta do que poderia. "O caso brasileiro é o de não crescimento por asfixia."

Na mesma linha, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defende um corte da taxa de juros em "no mínimo 1 ponto porcentual". A pressão também foi reforçada pelo vice-presidente da República, José Alencar, que almoçou na quinta-feira com o presidente do BC, Henrique Meirelles, e com parte da sua diretoria. No final, Alencar disse que tratou de juros, embora a conversa tenha abrangido outros assuntos. O vice-presidente é um defensor intransigente de juros mais baixos.

O Banco Central foi criticado até pela própria equipe econômica. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, em entrevista ao jornal Valor Econômico, não pressionou diretamente por cortes nos juros, mas levantou questões que sugerem que o BC pilota mal a formação de expectativas na economia ou se comunica mal.

Levy questionou por que o mercado financeiro continua projetando juros reais altos se os próprios analistas econômicos e consultores acham que a inflação ficará dentro da meta e a economia vai crescer 3,5% este ano - ou seja, que está tudo bem. Ele sugere que os analistas podem estar enxergando um risco de crise mais adiante. Mas, se isso é verdade, o BC deveria alertar sobre esse risco.

O secretário é apontado nos bastidores como crítico da política de juros altos e não é a primeira vez que entra em choque com a diretoria do BC. Na sexta-feira, o Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que Levy não havia feito críticas à política monetária e que o ministro Antonio Palocci desautorizava seus auxiliares a comentar assuntos que não são de sua competência.

Mais brando na pressão, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reconheceu que o desempenho da indústria foi menor que o esperado, mas reafirmou que a economia voltou a crescer no quarto trimestre de 2005. Ele acredita que a economia crescerá ainda mais se o BC mantiver o juro em queda. Segundo Bernardo, é possível que a taxa Selic caia mais rapidamente este ano, porque o Copom vai se reunir menos vezes.

O Copom se reúne nesta semana e anuncia na quarta-feira a nova taxa de juros. Em 2006, as reuniões serão realizadas a cada 45 dias e não mais uma vez por mês, como era até o fim do ano passado. Serão oito reuniões neste ano, e não mais 12. Por isso, alguns analistas acreditam que o corte na taxa de juros, atualmente em 18%, será de 0,75 ponto porcentual e não mais de 0,5 ponto, o que significa manter o mesmo ritmo de queda iniciado em outubro.