Título: Gesto de Alckmin acende luz amarela no Planalto
Autor: Tânia Monteiro, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Nacional, p. A6

Opinião de que Serra é rival mais difícil não tem unanimidade entre aliados de Lula, já que não se conhece potencial de crescimento do governador

Causou preocupação, no Palácio do Planalto, a decisão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de deixar o cargo até 1º de abril para tentar concorrer à Presidência. Em conversas reservadas, integrantes do governo observam que preferem enfrentar Alckmin ao prefeito de São Paulo, José Serra, na seara do PSDB, mas a opinião não é unânime. Apesar de considerar Serra um adversário mais difícil, Lula disse a assessores, nos últimos dias, que Alckmin tem potencial de crescimento ainda desconhecido e, portanto, não se deve desprezá-lo. ¿Falam que o Alckmin não tem tempero, que é um picolé de chuchu. Mas é preciso cuidado: é um picolé de chuchu com tempero de pimenta malagueta¿, definiu um colaborador do presidente. ¿Ele tem perfil de bom moço e é perigoso, porque não sabemos até onde pode crescer. Serra nós já conhecemos.¿

A última pesquisa CNI-Ibope mostra que, se a eleição de outubro fosse hoje, Serra venceria Lula no primeiro turno. No Planalto, porém, a equipe do presidente diz que há muito caminho a percorrer até lá ¿ além de muitas obras para inaugurar. Embora a cúpula do PT faça pressão para Lula anunciar o quanto antes a campanha por um segundo mandato, ele só pretende lançar sua candidatura depois do carnaval, em março.

¿Não vou mover uma palha antes desse prazo¿, insistiu o presidente. ¿Não vejo nenhuma vantagem em antecipar uma decisão que, pela lei, posso tomar até março.¿

Questionado se o governo prefere enfrentar Alckmin ou Serra, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, desconversou. ¿O presidente sempre diz que não escolhe adversário. Nós escolhemos o nosso candidato e o PSDB que escolha o deles, com suas virtudes e defeitos.¿

Para Wagner, não se pode querer um único perfil de adversário. ¿Lula não é de modelito único¿, brincou. Cotado para disputar o governo da Bahia, o ministro também negou que sua decisão de deixar o cargo já esteja tomada. ¿Não há hipótese de eu dizer que sou candidato se esse projeto não estiver de acordo com o do presidente¿, afirmou Wagner, quando questionado se anunciaria hoje sua candidatura, ao participar da lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim, em Salvador. ¿O máximo que posso dizer ao PT é que estou à disposição.¿

No governo, ministros estão à espera de uma definição de Lula para tocar seus projetos. Todos os que forem concorrer a governos estaduais ou a vagas no Legislativo devem deixar seus postos até 31 de março. Na tentativa de não deixar as trocas para a última hora, o presidente planejava fazer a reforma ministerial ainda neste mês, mas agora já fala que a dança das cadeiras pode ficar para fevereiro ou mesmo para março. Pelos últimos cálculos do Planalto, aproximadamente dez ministros devem sair para disputar eleições.