Título: Tropa pode sair do Haiti este ano
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Internacional, p. A12

É o que disse o vice-presidente Alencar. Logo depois, Amorim afirmou, com ironia, que declaração era `otimista¿

BRASÍLIA - Após participar da cerimônia de honras fúnebres pela morte do general Urano Teixeira da Matta Bacellar, na Base Aérea de Brasília, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, disse que sua expectativa é que os soldados brasileiros saiam do Haiti ainda este ano, se a situação do país se normalizar após as eleições. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reagiu com uma certa dose de ironia às declarações do vice-presidente, dizendo que as interpretava como uma ¿manifestação de otimismo sobre os acontecimentos no Haiti¿. Amorim ressaltou que todas as decisões sobre o tema são tomadas em conjunto pelas várias áreas do governo envolvidas na questão. Alencar insistiu que ¿não é o momento¿ de se questionar a missão que está sendo cumprida pelas tropas brasileiras e salientou que o general brasileiro que assumirá o cargo em Porto Príncipe cumprirá o mandato de um ano do ex-comandante da força de paz, que assumiu o posto em 31 de agosto. ¿Temos de cumprir o nosso dever até o fim¿, declarou Alencar.

¿A missão está voltada para trabalhar no sentido de que se consolide a democracia. As eleições estão marcadas para 7 de fevereiro e ainda poderá haver um segundo turno¿, comentou Alencar. ¿Então, acredito que até março eles tenham já um presidente eleito e é natural que as Forças fiquem por mais algum tempo até que o novo governo organize o país para que haja segurança e manutenção da paz e da ordem¿, prosseguiu. Ao ser indagado se a expectativa é que os militares brasileiros deixem o Haiti ainda este ano, Alencar respondeu: ¿Ah, sim.¿

O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, que homenageou o morto em nome do presidente Luiz Inácio Lula Silva, discursou dizendo que a força cumprirá sua missão no Haiti, como todas as missões que recebem. ¿Não nos abateremos. Pelo contrário.Sentimo-nos fortalecidos em nossa vocação de guerreiros da paz¿, afirmou.

Na cerimônia de honras ao general Bacellar em Brasília, houve toque de silêncio e três salvas de disparos de fuzil pela guarda fúnebre do Batalhão da Guarda Presidencial. Em seguida, o corpo foi embarcado no avião Hercules para o Rio de Janeiro, onde foi enterrado.

O vice-presidente reconheceu que ¿infelizmente¿ as informações confirmam a versão de que o general Bacellar se suicidou (ler ao lado). Alencar disse ainda que não há indicação de que ele tenha deixado algum bilhete para a família sinalizando seu gesto.

Apesar de tentar passar a imagem de que não há nenhuma rusga entre o Itamaraty e o Ministério da Defesa, fontes do gabinete de Amorim deixaram claro ontem que o governo somente trará de volta os soldados brasileiros do Haiti quando houver essa determinação do Conselho de Segurança da Organização da ONU.

A rigor, essa decisão somente seria adotada pelo CS quando o novo governo haitiano que, em princípio, será eleito até o final de março, conseguir normalizar as condições de segurança do país ¿ algo que deverá demorar mais tempo que o imaginado por Alencar. Ainda assim, o Itamaraty considera que o Conselho se valerá, no Haiti, da mesma fórmula aplicada no Timor Leste. Ou seja, de uma retirada gradual das tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), e não uma saída abrupta.