Título: Blair ameaça levar Irã à ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/01/2006, Internacional, p. A13

Decisão iraniana de reiniciar enriquecimento de urânio pode chegar ao Conselho de Segurança

LONDRES - O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, foi taxativo ontem ao comentar a decisão do Irã de retomar terça-feira as pesquisas nucleares para enriquecimento de urânio. Em resposta a parlamentares, durante a sessão semanal de perguntas na Câmara dos Comuns, Blair disse ser provável que EUA e União Européia (UE) levem a questão iraniana ao Conselho de Segurança (CS) da ONU. ¿Acredito que primeiro seja preciso alcançar um acordo para levar o caso ao CS, se assim decidirem os aliados¿, afirmou, referindo-se aos demais países da UE e aos EUA. ¿É bem provável que essa decisão seja tomada na reunião de amanhã (hoje) dos ministros de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Alemanha e França¿. O encontro será em Berlim.

O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, declarou que o Irã cometeu um ¿sério erro de cálculo¿ ao abrir caminho para a retomada do enriquecimento de urânio, quando reiniciou as pesquisas na usina de Natanz, no centro do Irã. Segundo, McClellan agora é mais provável do que nunca que o Irã seja levado ao CS. Ele afirmou que os EUA estão mantendo intensas conversações com diplomatas europeus e de outros países para decidir o que fazer. ¿Acreditamos que se as negociações atingiram seu limite e o Irã não está dialogando de boa fé, então não há outra opção senão encaminhar o caso ao Conselho de Segurança¿, disse o porta-voz.

Depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, confirmou em 2002 que o Irã mantinha instalações nucleares secretas, o país foi pressionado a congelar seu programa nuclear. Conversações com a UE e a ameaça de ser submetido ao CS levaram o Irã a se comprometer em novembro de 2004 a congelar as atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio. O Irã alega que quer enriquecer urânio apenas para uso em usinas nucleares de produção de energia elétrica, mas os EUA, Israel e UE acusam o país de pretender usar o material em armas atômicas. EUA e UE, com apoio da Rússia, propõem que o Irã compre o urânio enriquecido, o que o país não aceita.

¿O Irã não se deixará intimidar e continuará com seu programa nuclear¿, reagiu o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad. O ex-presidente Ali Hashemi Rafsanjani se disse surpreso com as ameaças do Ocidente e reiterou que o país não se intimidará ¿com sanções ou qualquer outra ação¿.