Título: Duda recebeu R$ 2,2 milhões em dinheiro vivo
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Nacional, p. A5

A CPI dos Correios rastreou R$ 2,2 milhões em depósitos feitos com dinheiro vivo e sem origem identificada nas contas ligadas ao publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes da Silveira. Técnicos da comissão descobriram 82 depósitos em dinheiro nos últimos cinco anos ¿ 46 a partir de 2003, já no governo Lula. Segundo a CPI, as transações são suspeitas por não haver o registro do nome do depositante e pelo mecanismo do depósito: grandes quantias em dinheiro, indício consistente sobre a origem duvidosa desses recursos. Países da Europa, por exemplo, listam esse tipo de operação como crime antecedente da lavagem de dinheiro.

Pela natureza das transações, o BankBoston, que administra as contas, deveria ter alertado o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) quando pelo menos três dos depósitos foram feitos. Os técnicos já descobriram operações de R$ 400 mil, R$ 300 mil e R$ 255 mil ¿ todas em dinheiro e sem o nome do depositante.

Questionado pela reportagem se de fato avisou o Coaf das operações, o banco assegurou, indiretamente, que sim. ¿O BankBoston informa que comunica automaticamente ao Banco Central todas as operações em espécie superiores a R$ 100 mil¿, afirmou o banco, por meio de nota. O BankBoston também informou na nota que, devido ao respeito ao sigilo bancário de seus clientes, não poderia comentar o caso de Duda. O banco também se pronunciou sobre as lacunas nos dados bancários do publicitário remetidos à CPI. ¿Todas as informações solicitadas pela CPI dos Correios foram fornecidas¿, afirmou a instituição. Se realmente foram enviados ao Coaf os detalhes dessas operações, nunca chegaram à CPI. A comissão vai requisitar ainda nesta semana as informações ao Coaf.

A campeã de depósitos em dinheiro e sem identificação é a sócia de Duda, Zilmar. A conta dela recebeu 41 depósitos desse tipo. O maior deles, de R$ 255 mil, aconteceu no dia 20 de dezembro de 2002, logo depois da campanha eleitoral. O depósito mais vultoso entre os 82 foi para a conta da CEP (Comunicação e Estratégia Política Ltda.), uma das empresas de marketing do publicitário, no valor de R$ 400 mil, em 31 de agosto de 2004, durante as eleições municipais.

Tales Castelo Branco, advogado do publicitário, garantiu que todos os depósitos nas contas de Duda não têm origem duvidosa. Ele informou que vai publicar nos próximos dias uma nota na imprensa explicando a movimentação financeira do publicitário.