Título: Grandes avanços em todas as etapas do tratamento
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2006, Vida&, p. A22
Talvez nenhuma outra área da medicina tenha tido avanços tão grandes nos últimos anos como a oncologia. A evolução ocorreu em todas as três frentes do tratamento: a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia. A quimioterapia surgiu durante a 2ª Guerra Mundial, na década de 40, quando os americanos descobriram que a mostarda nitrogenada, inicialmente uma arma química, segurava o crescimento das células cancerosas. Depois desse, vieram outros remédios mais eficazes, mas sempre acompanhados dos incômodos efeitos colaterais. "Atualmente temos remédios que praticamente acabam com as náuseas e os vômitos", diz Ed Holdener, responsável mundial pela área de pesquisa clínica do laboratório Roche.
Na radioterapia (o uso da radiação para destruir o material genético que provoca o crescimento rápido e desordenado das células do tumor), os avanços também são consideráveis. Hoje existem computadores que mapeiam o organismo do doente e permitem que os raios sejam direcionados sobre o tumor com uma precisão de milímetros. Alguns tumores na próstata e no cérebro já podem ser eliminados sem cirurgia, apenas com a radioterapia.
"A gente olha para trás e morre de rir da técnica. As doses de radioterapia eram altas e a precisão era pequena. Atingia muitas células sãs. E muitas vezes queimava a pele do paciente", lembra o oncologista Riad Younes, chefe do Departamento de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer, de São Paulo.
As cirurgias para remoção de tumores também se aperfeiçoaram. Há 30 anos, muitos doentes chegavam a ter um braço inteiro amputado. Em relação à mama, também se recorria à retirada total. Hoje o mais comum são cirurgias bem menos agressivas.
"Há 20 anos, como sabiam que não iriam conseguir salvá-los, muitos médicos escondiam a doença dos pacientes. Diziam que era uma úlcera ou uma inflamação. A palavra não era dita", recorda o oncologista Sérgio Daniel Simon, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
O tratamento está se tornando integrado. O médico que cuida dos remédios, o que cuida da radioterapia e o que faz a cirurgia estão começando a decidir em conjunto qual é a melhor estratégia. "Antes, cada um ficava no seu canto", diz Younes.
Além disso, a população está mais informada. No caso dos cânceres de próstata e de mama, os exames passaram a ser periódicos e as doenças começaram a ser detectadas no início, quando são maiores as chances de cura. No caso do câncer de pele, as pessoas começaram a evitar o sol em certos horários.
Ainda é um sonho distante a cura total da doença. Cada câncer é um mal muito particular ¿ existem mais de 200 tipos. O que coloca todos sob o mesmo guarda-chuva é o fato de se originarem da transformação da célula normal numa célula maligna. "Os avanços da tecnologia estão ajudando a comunidade científica a finalmente entender os segredos dessa grande variedade de cânceres", diz David Epstein, presidente da Novartis Oncologia Mundial. "O diagnóstico e o tratamento ainda têm muito para avançar."