Título: Paulo de Tarso diz que PT sabia de caixa 2 e desafia cúpula do partido
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Nacional, p. A6

Em depoimento ontem à CPI dos Bingos, o economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário municipal de Finanças de Campinas e São José dos Campos, disse que os dirigentes do Partido dos Trabalhadores em São Paulo sabiam desde 1995 como funcionava o esquema de arrecadação de recursos para o caixa 2 do PT. Paulo de Tarso afirmou ter entregue para um dos dirigentes cópia da carta registrada em cartório que enviou ao então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo para o partido não ser ¿condescendente com dilapidadores de recursos públicos¿. Na carta, Paulo de Tarso assegura que a empresa Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), ligada ao compadre de Lula, Roberto Teixeira, e seu irmão Dirceu Teixeira, agia de forma irregular nas prefeituras administradas pelo partido. De acordo com o economista, a CPEM era contratada sem licitação para fazer um trabalho com base ¿em notas falsas e rasuradas¿, tirando daí um porcentual pelo aumento na arrecadação do Imposto sobre Mercadorias e Serviços (ICMS).

Ele disse ter documentos comprovando sua acusação. O requerimento do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) propondo sua acareação com Roberto Teixeira será votado hoje na CPI. Paulo de Tarso disse que a CPEM era apresentada como ¿uma empresa amiga e que poderia ajudar nosso partido¿ e, entre outras despesas do partido, teria bancado a chamada Caravana da Cidadania, como foi batizada a campanha de Lula por todo o País, em 1994.

Entre os petistas que sabiam como funcionava o esquema, o economista citou, além de Lula, seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o hoje presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, o então presidente do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, o ex-presidente do partido, José Genoino, líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), e no Senado, Aloizio Mercadante (SP), o senador Eduardo Suplicy (SP), o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), além dos ex-prefeitos Jacó Bittar (Campinas) e Ângela Guadagnin (São José dos Campos).

¿Tirei uma cópia da carta e entreguei na mão de todos os dirigentes, senador Mercadante, Suplicy... O Arlindo Chinaglia falou com todas as letras que já tinha ouvido falar de um esquema paralelo da estrutura do partido... O Aloizio ficou chocadíssimo, disse que isso era nitroglicerina pura, mas só que não fez nada.¿ De acordo com o economista, Genoino disse que sabia da denúncia ¿com todas as letras, que tudo era verdade, mas que não podia fazer nada¿. ¿Assumir mesmo para valer (a solidariedade), ficar do meu lado, ninguém teve essa ousadia, essa coragem.¿ Na ocasião, contou ter ouvido o ex-assessor de Lula, Frei Betto declarar: ¿Se o Lula souber que alguém está conversando com você, ele jura que aquela pessoa vai ser decapitada do partido.¿

Ele elogiou o Estado pela independência do jornal e por ter dito ¿que o PT vai ressurgir quando conseguir se livrar dos Josés Dirceus e Lulas da vida¿. ¿Passei a respeitar o jornal O Estado de S. Paulo exatamente por essas posições dignas.¿

O economista bateu forte em Okamotto e no compadre de Lula, Roberto Teixeira. Deixou claro que Okamotto agia a mando de Lula. ¿Ele era um pau-mandado que executa qualquer tarefa, não quer saber se é lícito ou não.¿

Contou que Okamotto conseguia dos prefeitos a relação dos fornecedores. ¿Ele dizia que queria visitar essas empresas¿, afirmou, deixando claro que via ali esquema para pedir propina.

Sobre Roberto Teixeira, lembrou que Lula apoiou suas ações a ponto de dar ultimato ao acertar sua expulsão do PT. ¿Lula enquadrou o Campo Majoritário do PT e disse: `Ou ele (Paulo de Tarso) ou eu¿, deixando claro que não aceitaria que seu compadre fosse punido¿, relatou.