Título: Irã não viola tratado, diz presidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

Ahmadinejad afirma que país segue TNP e Ocidente não tem base legal para levar Irã ao Conselho de Segurança

TEERÃ - O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, enfatizou ontem que seu país não violou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) ¿ do qual é signatário ¿ e, portanto, a comunidade internacional não tem base legal para restringir seu direito de realizar pesquisas nucleares para fins pacíficos. Na sexta-feira o Irã ameaçou limitar as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em suas instalações nucleares se os EUA e aliados europeus submeterem o país ao Conselho de Segurança (CS) da ONU, como vêm ameaçando fazer.

"Não há nenhum prova de que o Irã tenha se desviado de seu programa (com a intenção de produzir armas nucleares)", afirmou Ahmadinejad numa entrevista à imprensa, em Teerã. "O protocolo do Tratado de Não-Proliferação Nuclear não estabelece restrições a atividades de pesquisa nuclear e o Irã não aceitou nenhuma restrição a pesquisas", disse ele, insistindo em que seu país não desistirá do desenvolvimento nuclear.

Ahmadinejad afirmou que as acusações do Ocidente, de que o Irã pretenda construir armas atômicas, "não passam de propaganda, o que pode ser comprovado pela presença de inspetores e câmeras da AIEA em todas as instalações nucleares do Irã". Ele também acusou os "partidários de Israel" de serem "criminosos de guerra".

O TNP é peça fundamental dos esforços internacionais para evitar a disseminação de armas nucleares e para viabilizar o uso pacífico de tecnologia nuclear. No mundo árabe e islâmico, a pressão sobre o Irã é vista como mais uma ação imperialista do Ocidente, já que Índia, Paquistão e Israel têm comprovadamente armas atômicas e não assinaram o TNP

Países europeus e os EUA querem encaminhar a questão nuclear do Irã ao CS pelo fato de o país ter retomado, na terça-feira, em sua usina de Natanz, as pesquisas para enriquecimento de urânio para produção de combustível para usinas nucleares. Segundo as autoridades iranianas, sua meta é usar o material apenas nas usinas de produção de energia elétrica, mas americanos e europeus acusam o país de ter planos de produzir armas atômicas.

Os diplomatas ocidentais dão como justificativa para esse receio o fato de o Irã ter ocultado da AIEA, até anos atrás, várias instalações nucleares, incluindo a de Natanz. Diante disso, a União Européia e os EUA, ameaçaram em 2004 levar o caso ao Conselho de Segurança. O Irã concordou, então, em novembro desse ano, em congelar suas atividades de pesquisa nuclear e iniciar conversações com Grã-Bretanha, Alemanha e França, que propunham oferecer incentivos econômicos e tecnológicos para o país desistir do enriquecimento do urânio.

Essas conversações não avançaram e o impasse se intensificou depois que Ahmadinejad ¿ um político ultraconservador ¿ assumiu a presidência, em agosto de 2005.