Título: Fundação de rapper atende 1.500 pessoas
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2006, Internacional, p. A16

Cantor e compositor Wyclef Jean encara desafio da miséria no pais mais pobre da América Latina

PORTO PRINCIPE - Onde as tropas da Força de Paz das ONU não entram os voluntários da YéleHaiti e seus parceiros são recebidos de braços abertos. Tradução de solidariedade e paz, essa fundação criada há pouco mais de um ano nos EUA é uma resposta do cantor e compositor Wyclef Jean ao desafio da miséria em sua pátria, o país mais pobre da América Latina, que ele está visitando mais uma vez, neste fim de semana. "O Haiti é minha terra, a primeira nação negra a ganhar a independência no mundo (1804)", disse o cantor rapper, que nasceu na cidadezinha de Croix-des-Bouquets em 1972 e emigrou com o pai para Nova York aos 9 anos. Começou limpando banheiros e estudando ao mesmo tempo, hoje é artista famoso, "o haitiano n.º 1", como dizia ontem um de seus fãs.

A chegada de Wyclef à cidade atraiu centenas de pessoas às ruas, enquanto ele desfilava numa camionete com escolta de tropas da ONU a caminho de uma escola pública, seu primeiro programa. Sorrindo e acenando para todos os lados, um gorro de algodão felpudo com as cores do Haiti na cabeça, ele falou do alcance e da filosofia de sua fundação: "Nossa bandeira é a educação, meio ambiente, saúde e esporte, não temos nenhuma conotação política, pois na YéleHaiti acreditamos, como Martin Luther King, que essas são as armas contra a violência", disse o rapper haitiano-americano.

Neste país onde a maioria de seus 8 milhões de habitantes vive com menos de US$ 1 por dia e mais de 60% das pessoas passam fome, uma das prioridades da YéleHaiti é distribuir comida nas favelas Cité Soleil, Bel Air e outras áreas miseráveis de Porto Príncipe. Em parceria com o Programa Mundial de Alimentos, a fundação atende a 300 famílias ou 1.500 pessoas por dia. A solidariedade de Wyclef leva recursos a escolas e postos de saúde, socorre a população vítima de catástrofes, como aconteceu em Gonaïves, quando a cidade foi arrasada pelo furacão Jeanne em 2004, planta árvores nas regiões devastadas pelas queimadas e ataca problemas urgentes como o acúmulo de lixo na capital. Na sexta-feira, a convite da YéleHaiti, os atores Brad Pitt e Angelina Jolie visitaram escolas de Porto Príncipe.