Título: Irã tem apoio de Rússia e China
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Internacional, p. A12

VIENA - Os EUA e aliados da União Européia mantiveram ontem a pressão sobre o Irã, recusando uma proposta do país de retomar as negociações sobre seu programa nuclear e mantendo as ameaças de levar o caso ao Conselho de Segurança (CS) da ONU. Na realidade, porém, eles ainda não conseguiram o apoio da Rússia e da China ¿ países com poder de veto no CS ¿ para encaminhar a questão à ONU. Os governos russo e chinês fizeram ontem um apelo ¿à negociação em vez de confrontação¿. A China importa petróleo e gás do Irã e a Rússia vende tecnologia nuclear ao país islâmico. Depois de um encontro em Londres entre diplomatas americanos, europeus, russos e chineses, na segunda-feira, representantes da Grã-Bretanha, França e Alemanha pediram uma reunião de emergência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), nos dias 2 e 3. O objetivo é aprovar no conselho diretor da AIEA, formado por 35 países, a proposta de levar o caso iraniano ao CS. Mas se europeus e americanos não tiverem certeza do apoio de russos e chineses no CS, vão suavizar o tom. Segundo a Associated Press ¿ que informou ter tido acesso ao esboço de resolução dos britânicos propondo à AIEA o envio do caso ao CS ¿ o texto não faz menção a ameaças de sanções contra o Irã.

Essa pressão se intensificou depois que o Irã reiniciou, na semana passada, pesquisas para enriquecimento de urânio em sua usina de Natanz, que europeus e americanos temem que sejam direcionadas para produção de armas atômicas. O país sustenta que tem direito de realizar pesquisas nucleares e seu objetivo é o uso pacífico na produção de energia elétrica.

Europeus e americanos não estão certos de conseguir o aval de russos e chineses para levar o caso ao Conselho de Segurança e ontem um diplomata alemão admitiu que a reunião em Londres não chegou a um acordo. ¿Todas as possibilidades oferecidas pela AIEA ainda não foram esgotadas¿, declarou ontem o chanceler russo, Serguei Ivanov, que também criticou o Irã por não estar ¿fazendo o necessário¿ para sair da crise. ¿Conversações pressupõem obrigações. Os iranianos têm de cumprir a moratória.¿

Lavrov se referia ao fato de o Irã ter retomado as pesquisas nucleares, contrariando um acordo firmado em novembro de 2004 para congelar essas atividades e manter negociações com Grã-Bretanha, França e Alemanha para uma alternativa ao enriquecimento de urânio em seu território. Em dezembro, a Rússia propôs que o urânio iraniano fosse enriquecido em usinas no território russo.

Tentando evitar o agravamento da crise, o Irã pediu ontem à tróica européia que reinicie negociações. Na carta com a solicitação, contudo, o país deixa claro que não pretende abdicar do direito de enriquecer urânio. Os EUA se recusaram a levar a sério a oferta iraniana de diálogo. ¿Isso é uma cortina de fumaça diplomática que eles fabricaram¿, disse o porta-voz da Casa Branca, Sean McCormack. O governo britânico fez pouco caso da proposta do Irã, que qualificou de ¿vazia¿. Mas um assessor de Tony Blair enfatizou que é preferível a solução diplomática, desde que o Irã respeite suas obrigações internacionais.