Título: Uruguai namora EUA 'sem preconceitos'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

BUENOS AIRES - O governo do presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, intensificou ontem o namoro iniciado há duas semanas com os Estados Unidos. Durante uma reunião, Tabaré ordenou aos ministros que analisem ¿sem preconceitos¿ as eventuais vantagens de um acordo de livre comércio com os EUA. Desde o início do mês, diversos ministros deixaram claro que o Uruguai está insatisfeito com o atual estado do Mercosul e com o desprezo que os sócios ¿grandes¿ (Brasil e Argentina) têm com os sócios ¿pequenos¿ (Uruguai e Paraguai), que representam 5% do PIB do bloco.

Tabaré ordenou a seu gabinete que se apresse para reativar a Comissão Conjunta de Comércio e Investimentos Uruguai-EUA para iniciar as discussões sobre o acordo. A ordem chamou a atenção, já que a Comissão, criada em 2002, não se reunia desde março de 2004, ainda no governo do antecessor de Vázquez, o ex-presidente conservador Jorge Batlle.

Segundo informações extra-oficiais, divulgadas pelo Canal 10 de Montevidéu, Tabaré disse que seria melhor um acordo comercial ¿quatro mais um¿, ou seja, os integrantes do Mercosul em conjunto, com os EUA. Mas explicou que não percebia disposição dos outros sócios do Mercosul para esse tipo de acordo.

Na semana passada, o secretário de Relações Econômicas Internacionais da Chancelaria argentina, Alfredo Chiaradía, disse que o Brasil era o culpado pela insatisfação uruguaia. ¿A manifestação da insatisfação uruguaia é reflexo do que a Argentina diz há tempos sobre o Mercosul: é preciso atender às assimetrias.¿ Segundo ele, os pedidos argentinos para criação de mecanismos que evitem as assimetrias ¿não foram escutados e por isso o problema acentuou-se e agora a insatisfação de um sócio põe o Mercosul em risco¿.

Já o presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, o argentino Carlos Chacho Álvarez, disse que a proposta do Uruguai sobre um acordo com os EUA é um ¿sinal de alerta¿.

Álvarez não criticou Tabaré, mas sugeriu que o compreendia. ¿Talvez o comércio foi perdendo volume e no mercado regional há países que começam a ver que existem outras oportunidades lá fora.¿