Título: Contradição é só aparente
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

Quem olha um dado e depois outro fica na dúvida. A Confederação Nacional da Indústria revela que as vendas reais da indústria cresceram 3,8% em novembro na comparação com as de outubro. Para o mesmo período, o IBGE verifica uma estagnação da ocupação do setor. Como podem as vendas industriais ter crescido e, ao mesmo tempo, o emprego permanecer parado? Quando o IBGE apontou queda do PIB no terceiro trimestre do ano passado, essa aparente esquisitice também apareceu. Depois se verificou que não há contradição entre os números.

Os dados ainda não são conclusivos, mas é bastante provável que as vendas da indústria tenham crescido em novembro sem aumento correspondente da atividade industrial. Isso acontece. Se avaliou mal o mercado e afogou-se em estoques, o industrial trata de reduzir a velocidade de suas máquinas e da contratação de pessoal e se põe a vender estoques de acabados.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem a seguinte explicação: o primeiro trimestre foi bem para a indústria e, com base nesse resultado, o sistema produtivo acelerou a produção no segundo trimestre. Foi quando a crise política e os escândalos revelados nas CPIs levaram o consumidor, com medo do futuro, a reduzir suas compras. As mercadorias encalharam nas prateleiras até meados de outubro e só encontraram escoamento nos meses seguintes.

Se isso estiver correto, os próximos meses são de manutenção e até de crescimento do consumo e de retomada da atividade produtiva.