Título: Após 4 meses em queda, vendas da indústria reagem
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Economia & Negócios, p. B3

BRASÍLIA - As vendas da indústria cresceram 3,84% em novembro ante outubro, interrompendo quatro meses de queda, informou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mas o número de empregados, as horas trabalhadas e os salários reais do setor recuaram no período. Também caiu a utilização da capacidade instalada, de 81% em outubro para 80,8% em novembro. Apesar dos dados negativos, a CNI concorda com o Ministério da Fazenda de que haverá recuperação da atividade ao longo do primeiro trimestre deste ano, puxada pela sucessão de cortes nas taxas de juros iniciada em setembro de 2005.

Para o chefe da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, houve um movimento de ¿acomodação¿ do setor ao novo ambiente de juros. Ele acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tem espaço para cortar a taxa, na reunião de hoje, porque a utilização da capacidade instalada caiu.

Segundo ele, esse dado indica que há espaço para aumentar a produção e, dessa forma, conter movimentos inflacionários. ¿Isso mostra que não há restrição à oferta e o BC não precisa se preocupar com as pressões inflacionárias e pode cortar os juros¿, comentou.

Como a maioria dos analistas, o economista da CNI aposta que o Copom cortará os juros em 0,75 ponto porcentual, o que significa a manutenção do ritmo de queda do fim do ano passado. Em 2006, o Copom terá menos reuniões (oito, em vez de 12) e, por isso, precisará fazer cortes maiores para manter a trajetória iniciada em 2005.

A próxima reunião do comitê só ocorrerá dentro de 44 dias. ¿As vendas (em novembro) não surpreenderam, pois em outubro houve queda e era razoável que se vendesse em novembro o que estava acumulado¿, observou Castelo Branco, acrescentando que as vendas apenas retomaram o patamar em que estavam em meados do segundo trimestre do ano passado. De janeiro a novembro, as vendas acumularam 2,14% de alta em 2005.

As vendas fracas em outubro fizeram com que as indústrias virassem o mês com estoque elevado. Por isso, a produção em novembro caiu, apesar do crescimento nas vendas registrado naquele mês. A reação foi uma oportunidade para liquidar estoques, mas não foi um movimento forte o suficiente para puxar a produção. Por isso, as horas trabalhadas na produção caíram 1,04% no mês. No ano, porém, ainda acumulam alta de 4,84%.

A pesquisa da CNI mostra ainda que o número de empregados da indústria caiu 0,36% no penúltimo mês do ano passado, refletindo a queda no Produto Interno Bruto (PIB) de julho a setembro. A CNI explicou que há uma certa defasagem de tempo para que o comportamento do emprego espelhe as condições da economia.

No período acumulado até novembro, no entanto, o indicador apresenta alta de 4,47%. Os salários líquidos pagos pela indústria caíram 0,09% em novembro ante outubro, considerado estável pela CNI.

No ano, o comportamento ainda é positivo, de 8,20%.