Título: Economistas questionam papel do Copom e falam até em sua extinção
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2006, Economia & Negócios, p. B4

BRASÍLIA - Ás vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, economistas defendem a reformulação do colegiado, seja para simplesmente extingui-lo ou, numa versão menos ousada, que a Secretaria do Tesouro Nacional seja incorporada às discussões e tenha direito à voto. A extinção do Copom foi defendida pelo ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo Amir Kahir. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria decretar o fim do Copom e deixar a taxa de juros flutuar e, portanto, ser definida pelo mercado. Khair, ligado ao PT, acha que hoje o BC é a maior trava para uma queda maior dos juros. ¿Se deixar o mercado arbitrar a taxa, os juros futuros de longo prazo já descontada a inflação estariam entre 4% e 5% ao ano.¿

Independentemente de uma reformulação do colegiado, Khair defende um ritmo mais acelerado para a queda. ¿Poderíamos ter cortes de juros de 1 ponto porcentual a cada reunião do Copom.¿ Assim, a taxa de juros nominal (descontada a inflação) poderia chegar ao fim do ano em torno de 10%. ¿Com inflação de 4,5%, teríamos uma taxa real de cerca de 5,5%.¿

Um BC mais ousado não entusiasma o economista da Arx Capital, Alexandre Sant¿anna. Para ele, é função do BC compatibilizar o objetivo de taxas mais baixas com o regime de metas de inflação. ¿O BC tem um mandato para cumprir as metas de inflação e neste sentido é que ele deve conduzir a política monetária.¿ A preocupação do BC, na opinião de Sant¿anna, não pode ficar isolada nos juros.

Mas, para Khair, a política de combate à inflação não pode ficar só a cargo do BC e deve ser uma tarefa executada de comum acordo com o Ministério da Fazenda ¿ que, diz ele, tem condições de usar instrumentos poderosos contra a inflação, como reduzir impostos.

O ex-presidente do BC Gustavo Loyola faz o contraponto, embora também considere que o Copom está sendo conservador. ¿O BC está comprando briga até com gente de bem, que defende um BC conservador.¿

Segundo ele, só haverá espaço para quedas maiores dos juros quando o governo decidir ser mais ousado na questão fiscal. ¿O governo precisa retomar a discussão sobre o ajuste fiscal de longo prazo.¿ Com queda nas despesas correntes do governo e desvinculação das receitas do orçamento, a dívida interna do setor público, segundo Loyola, poderia ter uma trajetória de queda mais consistente no longo prazo. ¿Com a dívida menor, poderíamos ter uma taxa de juros mais baixa.¿

O economista da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, defendeu a participação do secretário do Tesouro Nacional nas reuniões do Copom. ¿Ele deveria ter assento no Copom porque é quem paga os custos da política de juros altos.¿